quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

HISTÓRIAS DO PRATA: TERRA DE ARTISTAS


                                                  TERRA DE ARTISTAS

Escola da D. Bilía mãe do prof. José Carmo

Quando criança, estudei apenas um ano no Prata. Estudei em Uberaba, Ituiutaba e Belo Horizonte. Tinha oito ou nove anos de idade quando fui matriculado no segundo ano na Escola da Dona Bilía.

As crianças naquela época eram criadas soltas, os meninos principalmente viviam pelas ruas e córregos que beiravam a cidade. As brincadeiras eram diversas, mas uma característica da minha querida cidade do Prata era a inclinação para as artes. Desde festivais musicais, danças, show circense, até apresentações teatrais improvisadas.

Acima da Escola, ao lado do Correio ficava a casa do Rafael da Chana. Ali havia uma frondosa mangueira, onde a criançada construiu trapézios de circo para apresentar peripécias e sua arte circense. Assistíamos sentados nas cadeiras de Dona Chana a apresentação que terminava com os nossos aplausos.

Ao fundo da Escola, um comprido terreno se encontrava com várias casas. Em uma dessas residências, alguns jovens costumavam representar supostas peças de teatro. O que me marcou foi uma apresentação que me deveria ter sido censurada. Mas, como naquela época não se dava muita importância a formação do menor de idade, assisti com os olhos bem arregalados de interesse. Nós todos empoleirados sobre os muros assistíamos a um médico atendendo seus pacientes. O consultório improvisado contava com uma mesa e duas cadeiras. O doutor era um rapaz magro e alto que recebia um após o outro seus “doentes” que
depois de uma breve consulta, despedia com uma receita. Penso hoje que deveria ser uma peça cômica porque todos nós riamos a não poder mais embora eu não compreendesse a graça. A última consulta foi dada a um moço que se queixava ao doutor de algo que o incomodava. Quando ele abaixou as calças, a plateia se manifestou eufórica, enquanto o doutor examinava aquela ereção priapistica, nós morríamos de rir. O doutor passou uma pomada, mandou que ele se sentasse, abaixou as calças e simplesmente sentou no seu colo. Não recordo do final nem me lembro se assiste a outras apresentações. Como disse sempre estudei fora não tenho nem certeza quais eram os atores daquela peça pornográfica.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A POLÍTICA, COMO ELA É! E OU, COMO ELA DEVERIA SER


            
Os conchavos dos políticos

           POLÍTICA

Aristóteles dizia que o homem é um animal político. A cidade grega era chamada de Polis, ou seja, o local de se fazer política. Os professores eram conhecidos como sofistas aqueles que ensinavam a arte do convencimento. Na democracia é preciso convencer as suas ideias ou aquilo que te interessa, em última instância é o voto que decide, então é preciso convencer o eleitor.

A pobreza, a fome dão votos aos políticos
Como animais políticos, nós trazemos no nosso âmago a política. Em família disputamos situações utilizando da política para ganharmos e convencer os demais. E assim, também na escola, no trabalho, em qualquer lugar que haja relações sociais. Platão acredita que o mais sábio devia governar os demais, já Aristóteles pensa que o governante deva ser o melhor, o que para ele é o que tenha mais temperança, mais equilíbrio segundo as necessidades da ocasião.
Muitas vezes as pessoas se desanimam com os maus políticos e quer trocá-los por outros, que não sejam políticos. A história nos mostra que todas as vezes que isso foi feito não teve um bom resultado. As religiões, por exemplo, todas as vezes que tomaram o governo levaram as nações para situações caóticas de extermínio e barbárie. A Igreja Católica na Idade Média com a Santa Inquisição.
Os Estados Islâmicos no Oriente médio. No Brasil cresce a Bancada da Religião no Congresso, isso a primeira vista, dá ao povo a impressão de serem socorridos pelas leis de Deus. O padre Marcelo Rossi chamou a atenção outro dia: “lugar de religioso é na Igreja”.
Políticos como Donald Trump se apresentam “como não sendo políticos”, o que é uma forma de convencimento político. Bem, primeiro temos que entender que política como dissemos anteriormente, é a arte do convencimento. Nicolau Maquiavel, afirmava que o bom político trás dentro de si a raposa para descobrir as armadilhas do caminho e o leão para espantar os lobos que querem a raposa. A arte do político é mediar conflitos, permitir acordos e a partilha de valores comuns.
Os políticos e o povo estão muito próximos, políticos corruptos saem do meio de povos corruptos. Há uma frase que diz: “cada povo tem o governo que merece”. O que percebemos é que os maus políticos querem o povo desinformado, mal formado, pobre e carente de todas as necessidades, para que assim eles possam melhor controlá-los e ludibriá-los. Quem tem transito livre entre as classes sociais é só o “político”, que é recebido pelos trabalhadores e pelos patrões, pelos religiosos e pelos ateus, e assim por diante. Como disse Maquiavel um príncipe sábio (bom político), sabe que se os cidadãos sempre precisarem dele, ser-lhe-ão sempre fiéis.
Para terminar repetiremos o que disse Dewey: a meta da vida não é a perfeição, mas o eterno processo de aperfeiçoamento... Não precisamos de “escola sem partido”, ao contrário precisamos saber tudo, mesmo que seja uma utopia. Ignorância não é bem-aventurança, é inconsciência e escravidão; só a inteligência pode nos fazer participantes da formação de nossos destinos. Talvez esteja aqui a chave para a escolha dos políticos certos, que nos possibilitem viver com plenitude e dignidade.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O VERDADEIRO PROFISSIONAL

         
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Para Platão existe uma verdade fora do mundo sensível, Aristóteles quer construir nesse mundo uma verdade.

Quando ingressamos no aprendizado de um determinado curso, além da parte teórica é preciso que a essência deste conhecimento também seja assimilada. Na Grécia antiga todo conhecimento estava na filosofia, que com o tempo foi dividindo-se em conhecimentos específicos de cada profissão, vamos dizer assim. Desta maneira, do conhecimento filosófico, nasceram todos os outros a história, a medicina, a matemática e assim por diante. Portanto, aqui, quando Platão diz filosofia ele está se referindo a todos os conhecimentos específicos. Na sua obra A República, Cap. VII: “Alegoria da Caverna”, o filosofo chama a atenção, para o fato de não ser possível ser “filosofo”, sem um longo processo de familiarização com uma realidade que ultrapassa a esfera do mundo sensível. A vida de quem conhece é norteada pelas exigências da alma. O filósofo, ou o profissional, portanto, não é simplesmente um teórico: ele deve mudar seu modo de viver, para seguir o Bem.

          Platão considera que a Verdade, o Bem, o Bom, o Belo, estão no mundo das Ideias. Ter um conhecimento é relembrar de um saber que a nossa alma possui, ou seja, antes de vir para o mundo sensível, ela convivia com esta verdade, com esse conhecimento, que hoje pode dar na disciplina de uma determinada profissão. Um bom profissional não se pode ater somente à teoria de um saber ou conhecimento de uma profissão.

          Um advogado, por exemplo, pode ter na memória todas as leis, mas, para ser um ótimo profissional não basta. É preciso que este profissional se confunda com a função de combater a injustiça. O verdadeiro profissional deve ter na alma a cor de sua profissão. Um professor deve se confundir com a essência do ensino, sua postura deve ser percebida como a de um verdadeiro educador, ou seja, de alguém que se porte de maneira exemplar e mesmo antes de falar as pessoas já sabem que se trata de um professor.

          Aristóteles afirma que devemos procurar a excelência, devemos amar com a Filia, que é a busca da perfeição pelo hábito de fazer sempre o melhor. Conhecemos professores da área de humanas, que se parece com professores de humanas. Um professor das disciplinas desta área percebe que a história da humanidade, é a história da exploração de uns homens sobre outros. Esta constatação, quando sentida na alma, incomoda estes professores que passam a apoiar a revolução, ou seja, a libertação dos explorados.

          Um médico, deve se parecer com um “médico”, não pela cor da suas vestimentas, mas pela sua postura de alguém preocupado com a saúde. Mesmo com roupas coloridas a cor de sua alma deve se apresentar “branca”. Os políticos, hoje tão desacreditados, devem buscar a excelência, fazer o melhor para amenizar as desigualdades sociais e as relações conflitantes entre as pessoas. Se assim for feito, e cada um cumprir com dedicação e amor sua profissão ou missão, vamos construir um mundo muito melhor para se viver.

domingo, 27 de novembro de 2016

A ESCOLA COM PARTIDO




                                  ESCOLA COM O PARTIDO DE GRAMSCI

                                                                    João Donizeti Alves Teodoro[1]



RESUMO

Esse trabalho busca, dentro da filosofia de Antonio Gramsci, uma metodologia de educação adequada aos explorados ou subjugados. A escola sob a orientação do Estado acaba por transmitir a ideologia dominante, por isso Gramsci defende uma escola única pública e afinada com os princípios da revolução socialista. A escola gramsciana busca dar especial atenção para o projeto educacional que desenvolva uma formação omnilateral. A presente pesquisa visa contribuir para o desvelamento ideológico do capitalismo no que concerne a educação e formação humana, norteando o trabalho de construção de outros rumos, através do projeto de emancipação do homem proposto pela filosofia de Marx, proficuamente tratada por Gramsci. Este esforço pretende superar o senso comum, o que exige domínio de teorias, conceitos e categorias de análise, com métodos de reflexão crítica e rigorosa, capaz de propicionar uma nova concepção de mundo. Uma nova cultura compatível com a hegemonia que se quer e pode ser buscada no ensino público. A escola, assim pensada daria respostas mais completas às questões da formação humana, desvelando os enigmas colocados pelas estratégias político-ideológicas.



Palavras-chave: Escola única, Hegemonia e Intelectual orgânico.































INTRODUCÃO

          Considerando que a educação é sempre uma atividade intencional, a ser medida pela referência a uma finalidade ou projeto, ela configura práticas sociais movidas por interesses inerentes à cultura, felicidade dos indivíduos e sobrevivência da espécie humana. Essa afirmação mesma já é uma interpretação que só poderia manter-se no interior de algum debate sobre a educação. A educação pode ser entendida como um grande laboratório, um campo de desenvolvimento de interpretações e perspectivas sobre o homem, sobre o que seria bom acontecer em seus diferentes ciclos de vida, infância, adolescência e diferentes fases da vida adulta. O debate sobre a educação envolve, pois, muito mais que teorias parciais sobre o homem, interpretações pedagógicas, psicológicas, históricas ou filosóficas. Além de ser permanente e continuada, ou, de combate entre interpretações rivais sobre o homem, o debate da educação pode configurar um diálogo total do homem com ele mesmo.

           Gramsci, materialista histórico-dialético, foi um pensador ligado a todos os problemas de seu tempo e deu grande importância à educação.  As crises constantes do sistema capitalista parecem atingir a escola de diversas maneiras. As estratégias que os dominantes apresentam são: novas metodologias e reformismos teóricos. Uma delas é promover a associação pacífica e acrítica dos programas pedagógicos. No ensino médio, recebemos novas leis e decretos um após o outro, de modo que quando assimilamos o conteúdo de um, este já está revogado por outro recente. No Senado Brasileiro tramitam, atualmente cinco projetos de lei que têm como objetivo interferir diretamente nos conteúdos abordados em salas de aulas, sob o pretexto de evitar a “doutrinação política e ideológica”, também propõe coibir o ensino, nas escolas, daquilo que chamam de “ideologia de gênero” e, entre outras formas de “ameaças à família” que afirmam existir no ambiente escolar.[2] Nessa perspectiva, esse trabalho busca compreender através das análises gramscianas, uma nova posição para o professor frente aos problemas que surgem de todas essas estratégias educacionais elaboradas por representantes das classes dominantes brasileiras.





A ESCOLA COMO PARTIDO DE GRAMSCI

           

           Na filosofia de Gramsci encontramos fundamentos para melhor compreender as atuais diretrizes educacionais e curriculares brasileiras, para forjarmos um novo homem. O que significa para Gramsci formar um cidadão, entendendo este como alguém que possui “o direito de ter direitos”? Quando uma educação confere ao educando a possibilidade de com sua experiência de vida aprender a se tornar sujeito de sua aprendizagem?

          Sabemos que estudar Gramsci é embrenharmo-nos na difícil missão de descortinar os caminhos de luta pela emancipação humana. Essa causa que hoje pode nos parecer quase perdida se considerarmos os sobressaltos do capital e a qualquer custo. A questão que se põe é a da formação humana, da educação pelo trabalho, pela configuração do trabalho associado, o qual exige a apropriação dos meios de produção e do conhecimento pela massa de homens trabalhadores.

           Gramsci mostra que a produção capitalista tenta construir um homem dócil para possibilitar sua maior exploração e alienação. E defende ainda que o intelectual orgânico, que além de especialista na sua profissão, que o vincula profundamente ao modo de produção de seu tempo, elabora uma concepção ético-política que o habilita a exercer funções culturais, educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o domínio estatal da classe que representa. Para Gramsci, “orgânicos” são os intelectuais que fazem parte de um organismo vivo e em expansão, portanto, desempenha a função de organizador, de organicidade política a classe à qual está diretamente ligado.

          O empresariado capitalista, entendendo-se numa posição superior, cria para se proteger um aparato técnico científico composto por cientistas de economia política. Se não todos os empresários, pelo menos uma elite deles deve possuir a capacidade de organizar a sociedade em geral, em todo o seu complexo organismo de serviços, até o organismo estatal, tendo em vista a necessidade de criar as condições mais favoráveis à expansão da própria classe; para tanto, deve possuir a capacidade, os “prepostos” (empregados especializados), a quem confiar esta atividade organizativa das relações gerais exteriores à empresa.

          Em todas as épocas e em suas diversas formas de produção, sempre estiveram presentes seus intelectuais orgânicos e suas crises ou, o fim de uma determinada sociedade deveu-se sempre à capacidade destes intelectuais reorganizarem a estrutura daquela forma de produção. Gramisci afirma que apesar de qualquer homem poder ser considerado um intelectual, nem todos os homens têm, na sociedade, a função de intelectuais.  E cita como exemplo o fato de alguém poder em determinado momento fritar ovos, sem significar que ele seja um cozinheiro. Formam-se assim, historicamente, categorias especializadas para o exercício da função intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas, sobretudo, em conexão com grupos sociais importantes, e que sofrem elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante. O autor acredita que uma característica importante é a assimilação dos intelectuais tradicionais e que a escola sempre foi o lugar em que se formaram os novos intelectuais orgânicos de um novo regime de produção. “A escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis” (GRAMSCI, 1991, V2, C 12 p. 19). O fato dos intelectuais tradicionais saberem que a escola é a possibilidade de reafirmação do sistema vigente, mas, também pode ser a base do pensamento para a sua transformação.

         Para Gramsci, a consciência da criança não é algo “individual, mas é o reflexo da fração de sociedade civil da qual a criança participa, das relações sociais tais como se aninham na família, na vizinhança, etc” (GRAMSCI, 1991, V2, C 12 p. 44). Naturalmente a escola luta contra o folclore, contra todas as sedimentações tradicionais de concepção do mundo. Pode-se dizer que na escola o nexo instrução-educação somente pode ser representado pelo trabalho vivo do professor, na medida em que o professor é consciente dos contrastes entre o tipo de sociedade e de cultura que ele representa e o tipo de sociedade e de cultura representado pelos alunos. Um professor medíocre pode conseguir que os alunos se tornem mais instruídos, mas não conseguirá que sejam mais cultos. A escola foi separada da vida. O fato de a escola não ter acompanhado uma mudança radical de um determinado modo de vida, separou a escola da vida e isso determinou a crise na escola. Gramsci já pressentia na escola de sua época uma profunda crise da tradição cultural e da concepção da vida e do homem, caracterizando um processo de progressiva degenerescência.

          A filosofia busca a superação do senso comum e essa superação, exige o domínio de teorias, conceitos e categorias de análise. Renê José Trentin Silveira em artigo no livro “O Transversal e o Conceitual no ensino de Filosofia”: Abstrata, difícil, inútil: o preconceito contra a Filosofia, o antídoto gramsciano, nos lembra que, o preconceito contra a filosofia, em considerá-la difícil para o entendimento das camadas populares:” se explica historicamente pela divisão da sociedade em classes e pela separação entre trabalho intelectual e trabalho manual”, (SILVEIRA, 2014, p 273). A superação dessa questão deve vir pela transformação da estrutura social por meio de uma luta também cultural, isto é, pelo modo de agir de pensar de uma nova sociedade. A criação de uma nova cultura compatível com a hegemonia que se quer, pode ser desenvolvida também no ensino público. Sua definitiva eliminação, portanto, supõe a superação da forma de sociedade, para ele, a luta pela transformação da estrutura social:

deve vir acompanhada de uma luta cultural, visando à renovação da mentalidade popular e à criação de uma nova cultura, mais compatível com a  nova sociedade que se pretende instaurar e com as novas relações de hegemonia que se devem estabelecer (SILVEIRA, 2014, p273).

          A escola, quanto mais ligada à realidade e à cultura, mais poderá contribuir para a formação de um sujeito integral, pois poderá atuar na organização política, além de possibilitar o caminho para a humanização integral do homem. E já que nos fazemos homens historicamente, e as crises orgânicas são os momentos propícios para se promover mudanças e transformações da realidade, pois:

A crise orgânica é a mudança morfológica das forças que organizam e guiam o crescimento civil dentro de uma determinada formação social. Traz consigo a possibilidade do desenvolvimento posterior que uma formação social tem em seu seio, com a potência criativa dos sujeitos agregando-os e orientando os vários reagrupamentos sociais para o confronto de classes na sociedade capitalista. Seria, para Gramsci, a guerra de posição, baseada na função dos sujeitos na História (SAID, 2014, p.113).

          A escola deve ser para Gramsci, o lugar de educar os alunos, tendo em vista um projeto revolucionário, para formar uma outra e nova sociedade. Assim, podemos pensar a escola como um dos aparelhos de hegemonia no interior do qual se pode disputar o poder político na promoção da “guerra de posição”, isto é, o espaço de se posicionar e preparar os “instrumentos” e as estratégias para a guerra de movimento. A guerra de posição, segundo Gramsci, antecede a “Revolução”. É o movimento certo, que se aproveitando de uma crise do Capitalismo, pode iniciar a criação de uma nova civilização. Embora seja o partido educador e o lugar em que se processa a passagem dos componentes do grupo social de nível da atividade econômica à aquela de atividade intelectual e política, é na escola que se adquire base teórica para que se aprofunde a compreensão das principais exigências teóricas da realidade.

          Maria Socorro Militão, na revista Gramsci e os movimentos sociais: O transversal e o conceitual no ensino de filosofia, afirma que Gramsci assimilou o conceito de reforma intelectual moral do filosofo e historiador francês Joseph Ernest Renan (1823-1892) que, em sua obra “A reforma intelectual e moral” (1871), desenvolveu um modelo de educação popular que propunha uma “revolução intelectual e moral” para a França, similar à Reforma Protestante alemã, apresentando-a como elemento de elevação civil das massas. Escreve: “Para Gramsci, as ideias de Sorel sobre a urgência de uma reforma intelectual e moral continha, ainda que de modo intelectualista e dispersa, ‘uma concepção da filosofia da práxis como reforma popular moderna’” (MILITÃO, 2011, p.138). Trata-se, pois, da passagem dos “simples” ou “subalternos” em sentido gramisciano a uma posição mais “elevada”:

O extrato dos intelectuais se desenvolve quantitativa e qualitativamente, mas todo progresso para uma nova amplitude e complexidade do estrato dos intelectuais está ligado a níveis superiores de cultura e amplia simultaneamente o seu círculo de influência com a passagem de indivíduos ou mesmo de grupos mais ou menos importantes, para o estrato dos intelectuais especializados (GRAMSCI, 2001, V1, p. 104-105).



          A educação parece ter sido uma das principais preocupações intelectuais de Gramsci. Uma dúvida que se pode afirmar que o persegue, mesmo antes da prisão, é como deveria ser a linha ideológica a ser preterida, ou preferida pela pedagogia educacional. Manacorda, na obra “O princípio educativo em Gramsci”, cita registro em várias Cartas que foram enviadas aos seus familiares, em que manifesta essas preocupações. Uma educação espontânea ou naturalista, onde ele cita o realismo de Rousseau, e do outro lado, uma educação mais austera ou autoritária, como a que ele recebeu em sua infância. Numa carta endereçada a Tania, sua cunhada, em tom de brincadeira, ele diz que uma dúvida em relação ao cultivo das plantas o persegue. Ao longo do muro do pátio da prisão ele plantou sementes que Tania tinha lhe enviado e que parecia demorar muito para crescerem, por isso ele, registra:

Todos os dias me vem a tentação de puxá-las um pouquinho afim de ajuda-las a crescer, mas permaneço inerte entre as duas concepções de mundo e de educação: se devo ser rousseauniano e deixar em paz a natureza que não se equivoca, mas é fundamentalmente boa, ou se devo ser voluntarista e forçar a natureza introduzindo na evolução a mão habilidosa do homem e o princípio da autoridade, (GRAMSCI apud MANACORDA, 2013, C.123, 22/04/1929, p.80).

         

          A partir desta data, Gramsci parece tomar uma posição mais efetiva em relação à educação e ter uma concepção mais rigorosa da postura do educador. Em discussões com a mulher em relação à educação de seu filho Delio, que ele acreditava não estar desenvolvendo os estudos a contento, ele considerava que toda a família da esposa tivesse uma postura muito natural com a educação de seu filho, que define como metafísica. Ele passa a rejeitar todo o inativíssimo, como uma hipótese de qualquer forma de metafísica, enfatizando, ao contrário, a existência de uma determinação ambiental.

          Manacorda destaca, aqui, “a história percebida também como condicionamento do homem, como ‘coerção’ (outra palavra-chave da pedagogia gramsciana). Excetuando-se a quase identidade entre as duas expressões”. (MANACORDA, 2013, p. 86). Daqui em diante Gramsci rejeita todo inatismo, enfatizando, ao contrário, a existência de uma determinação ambiental que, deixada agir espontaneamente, só pode resultar em desilusões. Eis o que afirma Manacorda ao interpretar o filosofo sardo: “Gramsci assinala em relação ao autoritarismo jesuítico, uma distância bem maior que em relação ao liberalismo rousseauniano; se não se avalia essas distâncias, elimina-se toda possibilidade de se entender os dois riscos opostos do espontaneísmo e do autoritarismo” (Idem, p. 87). Descartada qualquer forma de autoritarismo, procura-se elaborar uma concepção original e um de seus pontos de partida será a crítica a contradição do espontaneísmo, sob o argumento de que o respeito pela criança traduz-se, na prática, no abandono desta. Daí argumentou que:

Renunciar a formar a criança significa apenas permitir que sua personalidade se desenvolva extraindo caoticamente do ambiente geral todos os motivos de vida. É estranho e interessante que a psicanálise de Freud esteja criando, especialmente na Alemanha (a julgar pelas revistas que leio) tendências similares às que existiam na França do século dezoito; e vá formando um novo tipo de bom selvagem corrompido pela sociedade. Nasce daí uma nova forma de desordem intelectual muito interessante (GRAMSCI, Carta 402 a Giulia, 1936, p.87).



          Gramsci considera que o complexo educacional deve ter compromisso social com o seu tempo, expressando seu caráter universal de compreensão da realidade e contribuindo para a generalização do conhecimento, visto que a autêntica atividade educativa não visa uma finalidade prática imediata, mas atingir o plano da universalidade, sua função original figura um momento de consciência de si em determinado momento histórico. Elevar o homem para além de sua continuidade e imediatismo para um plano superior universal e chegar à consciência, visando a transformação de si mesmo e da sociedade.

          Ao colocar o homem como único demiurgo da história Marx inaugurou uma nova filosofia que não precisa de complemento de outros filósofos, pois contempla, em sua dimensão ontológica, todos os complexos da realidade, e a sua filosofia não se restringe a uma simples análise da sociedade capitalista, mas ao que funda o mundo dos homens, o que funda o ser social. Marx inaugura uma nova concepção de mundo, a Filosofia da práxis.

          Na Ideologia Alemã, Marx afirma que a filosofia de sua época se limitava à critica das representações religiosas a partir da religião real e da verdadeira teologia. O progresso, segundo aquelas teses, consistiria em subsumir também as representações religiosas ou teológicas às representações metafísicas, políticas, jurídica ou moral, como consciência religiosa ou teológica, em última instância o “Homem”, como religioso. O domínio da religião foi pressuposto e, aos poucos, declarou-se que toda relação dominante era relação religiosa. Os velhos hegelianos haviam compreendido tudo, desde que sob uma categoria da lógica hegeliana, já os jovens criticavam tudo, introduzindo sorrateiramente representações religiosas por baixo de tudo ou tudo como algo teológico. Esqueceram apenas que opõem a estas, fraseologias, e que, ao combaterem os discursos deste mundo, não combatem de forma alguma o mundo real existente. Os pressupostos de que partimos não são arbitrários, nem dogmas, mas reais e destes não se pode fazer abstração, a não ser na imaginação. A religião foi considerada por estes filósofos como a causa última de todas as relações repugnantes (MARX, 1999, p 26).

          No Caderno 11, (V1, 2014 p 174), Gramsci aponta que o senso comum afirma a objetividade do real na medida em que a realidade, o mundo, foi criado por Deus independentemente do homem. Essa é uma expressão da concepção mitológica do mundo; e ao descrever essa objetividade, incorre-se nos erros mais grosseiros, sem saber estabelecer os nexos reais de causa e efeito. Para o pensador sardo, isso seria o mesmo que afirmar ser “objetiva” uma certa “subjetividade” anacrônica, pois sequer sabe conceber a possibilidade de existência de um concepção subjetiva do mundo. Isso, entretanto não quer dizer que as ciências são verdadeiras e definitivas. Assim, se nem as ciências são verdades definitivas e peremptórias, também a ciência é uma categoria histórica, um movimento em contínua evolução. Ela “não exclui a cognoscibilidade, mas a condiciona ao desenvolvimento dos instrumentos físicos e ao desenvolvimento da inteligência histórica dos cientistas individuais” (Gramsci. V1, C11, 2014, p.174). Marx chama a atenção para examinar a história dos homens com muito cuidado, pois, podemos registrar na história fatos que foram interpretados de maneira errada ou deturpada. Aqui podemos citar um exemplo que estudamos nos livros didáticos de história, quando citam os países invadidos pelos romanos, denominam: ”Expansão do Império Romano”, mas quando os territórios são reconquistados, são: “Invasões Bárbaras”.  A preocupação de Gramsci e Marx é esclarecer este possível engodo. Marx e Engels escrevem onze teses para mostrar os possíveis erros que podemos cometer: “quase toda a ideologia se reduz ou a uma concepção distorcida da história, ou a uma abstração completa dela. A própria ideologia não é senão um dos aspectos da história” (MARX e ENGELS, 1999, p. 24)[3].

          A classe dominante quer transmitir para a classe dos subalternos que o que é bom para ela é bom para toda a sociedade, quando na verdade a classe dominante apresenta idéias, e propostas que somente a ela se identifica. Quanto mais progride a civilização, mais se vê obrigada a encobrir os males que traz necessariamente consigo, ocultando-os com o manto da caridade, enfeitando-os ou simplesmente negando-os. Em resumo, introduz uma hipocrisia convencional que sequer era conhecida pelas primitivas formas de sociedade e pelos primeiros estágios da civilização e que culmina na declaração de que a classe opressora explora a classe oprimida única e exclusivamente no interesse da própria classe explorada. “E, se essa não o reconhece e até se rebela, isso será expressão da mais baixa ingratidão contra seus benfeitores, os exploradores” (ENGELS, 2009, p 218).

          O trabalho é a ação teleologicamente orientada e objetivada, ou seja, é a ação constituída, primeiro, pelo momento de planejamento, pela capacidade de projetar antecipadamente na consciência, e, em seguida, o momento que converte aquilo que foi planejado em objeto, causalidade posta, que é tudo que foi feito e produzido pelo homem na sua intermediação com a natureza. Não obstante, devido à totalidade social permeada de determinações, na qual o sujeito ativo e seu produto então inserido, o produto foge ao controle do criador por movimentar séries causais e estar sujeito a determinações sociais e naturais, resultando em consequências imprevisíveis.

          Contudo, partindo do pressuposto de que o mundo objetivo foi construído pelo trabalho social, compreendemos que “a reprodução social comporta e, ao mesmo tempo, requer outros tipos de ação que não especificamente de trabalho” (LESSA, 1997, p.23-24). A práxis social mantém com o trabalho uma relação de dependência ontológica e de uma determinação recíproca, além de terem uma autonomia relativa.

          A educação que nasce da relação do homem com o homem, fundada pela eterna mediação homem-natureza, surge como complexo universal de transmissão e generalização do conhecimento produzido e acumulado para a geração do ser genérico, lançando mão da linguagem para tornar-se patrimônio da humanidade, para cumprir a função ontológica que, segundo Saviani, é “[...] produzir, direta e intencionalmente, a humanidade que foi produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (Saviani, 2003, p.13). O homem, a cada nascimento, precisa tornar-se homem. Aproxima-se do patrimônio genérico do ser social transmitido através da educação. Assim, o trabalho possui papel determinante na análise do complexo da educação, pois como afirma (TONET, 2007, p 52), a educação possui uma função essencial na difusão do conhecimento acumulado e da cultura humanística construída historicamente pela humanidade.

          É nesse aspecto, a escola que Gramsci pensa no viés do marxismo genuíno, possibilita uma formação omnilateral, completa, que rompa com todos os paradigmas hodiernos que buscam simplesmente justapor opostos, mantendo a contradição funcional do sistema vigente. A formação omnilateral visa, única e exclusivamente, contribuir para a dissolução do poder e organização dos múltiplos sujeitos da sociedade civil, criando a subjetividade necessária que somente é possível com a subversão da ordem de dominação para a instituição de uma sociedade genuinamente humana, possibilitando aos sujeitos coletivos não somente no âmbito da escola unitária, mas em todos os espaços e instituições que a sociedade comporta ou vier a criar, pela participação ativa na vida política, econômica e cultural.



          O princípio cultural e educativo gramsciano é, portanto, unitário: o problema é que uma formação completa é dado a alguns e negado a outros. A objetividade crescente da sociedade industrial contrapôs a velha cultura humanística, a nova cultura tecnológica, fragmentando e desagregando a velha unidade e exclusividade da cultura tradicional, levando, assim, à crise da escola. Dessa análise, surge a busca da solução “racional” (não significa, iluministicamente, produzida pela razão; mas objetiva, consistente com os fins), na qual Gramsci delineia uma nova organização educativa. Uma escola unitária vinculada às instituições produtivas e culturais da sociedade.

          Em suma, podemos aferir que a teoria gramsciana traz em seu cerne uma grande contribuição de caráter revolucionário para a discussão educacional, principalmente enfrentando as propostas dominantes. A escola deve fazer parte dessa frente única nucleada nas forças sociais antagônicas ao capital, fundamentalmente a classe operária e o campesinato pobre. Essas classes subalternas devem organizar-se de maneira autônoma segundo sua própria experiência, criando instituições sociais próprias que dariam materialidade à subjetividade antagônica em desenvolvimento. O partido revolucionário deve ser o elemento de coordenação, centralização e difusão dessa subjetividade antagônica, para que filtre o que não seja benéfico à classe operária.

        Gramsci, na prisão, sempre esteve preocupado e envolvido com uma possibilidade educativa que interviesse para o processo de formação do homem novo, a aceitação consciente de uma tarefa que sempre existiu, embora sob formas diversas, entre os velhos e os jovens, entre a classe hegemônica e as classes subalternas. A formação do homem novo e livre é necessária conjuntamente à consolidação de uma nova sociedade, emancipada, em que os antagonismos de classes sejam superados e sejam postas as possibilidades materiais e espirituais de desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas para uma sociedade comunista.

          Gramsci propôs a escola única com a finalidade de preparar os trabalhadores, os subalternos, para que pudessem efetivar uma aliança com os intelectuais orgânicos e com as forças que se desprendiam da ordem vigente, promover um suceder de objetivos transitórios, que culminaria com a revolução socialista e a realização da democracia do trabalho. A escola proposta daria respostas mais completas desvelando os estigmas colocados pelas estratégias dominantes. Assim, essa escola foi a primeira a se preocupar com todas as questões concernentes a formação humana e a que ofereceu as melhores respostas aos problemas educacionais percebidos por Gramsci durante o curto período de sua vida, grande parte no cárcere, refletiu e aprofundou sua ciência política, procurando compreender melhor todas as questões teóricas relacionadas à escola e outras instâncias que poderiam contribuir com a formação de um novo homem.

          Em suma, aferimos que a teoria gramsciana traz em seu cerne uma grande contribuição de caráter revolucionário para a discussão educacional, especialmente na contraordem das propostas dominantes. Gramsci defende severamente a necessidade de elevação do subalterno, de fazer de cada um desses indivíduos um ser humano, com acesso a todo patrimônio intelectual e material construído historicamente pela humanidade. O pensador sardo, busca na teórica e na prática educacional, a construção de uma nova forma de sociabilidade humana. O conhecimento cultural possibilita, para Gramsci, o conhecimento de si mesmo, e assim o homem pode sair da condição de subalternidade e elevar-se culturalmente e materialmente, podendo, desta feita, ativa e conscientemente, participar da construção da história, de sua própria história.

          A amplitude da obra gramsciana não nos permite finalizar as nossas considerações de modo pronto e acabado, mas como uma vereda que se abre, apontando uma longa jornada a percorrer, de idas e vindas teórico-práticas. E diante dos vastos elementos novos que se apresentam durante o processo de desvelamento de seu pensamento. Gramsci nos deu assim um programa educativo em acordo com sua concepção de mundo. Que é exatamente contrária a escola proposta no Parlamento brasileiro: “Escola sem partido”.


























COSTA, Jurandir Freire. Revista: Coleção guias de filosofias: O filósofo e a educação. Vol. III. São Paulo: escala 2015.

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________, Cartas do cárcere, Vol. 1: 1926-1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005a.

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MILITÃO, Maria Socorro Ramos. Gramsci e os movimentos sociais: o modelo de educação do MST e a escola única. In: O transversal e o conceitual no ensino de Filosofia.  (org): Humberto Guido, José Benedito de Almeida Júnior, Marcio Danelon. Uberlândia: EDUFU, 2014.

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SOUSA, Joeline Rodrigues de. Gramsci: educação, escola e formação – caminhos para a emancipação humana. Curitiba: Appris, 2014.

TONET, Ivo. Educação, cidadania e emancipação humana. Ijuí: Unijuí, 2005.

WEFFORT, Francisco (Org). Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 1993









[1] Bacharelando em filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia. Email:  doninhoteodoro@hotmail.com               
Artigo apresentado na disciplina, Iniciação ao Estágio: Seminários Temáticos, sob a orientação da professora doutora Maria Socorro Militão.


[2] O movimento Escola sem partido nasceu em 2003, a partir da iniciativa do procurador do Estado de São Paulo, Miguel Nagib. Em 2014 a família Bolsonaro abraçou esse projeto. Essa escola seria totalmente acrítica, com a proibição da leitura de alguns autores como Paulo Freire, Engels, Marx. Na verdade é uma escola que proíbe pensar a possibilidade viver numa sociedade diferente dessa que vivemos.


[3] Nota de Rodapé da Ideologia Alemã


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

BRASIL, O PAÍS DOS "GOLPES"



"Golpe" aqui é considerada todas imposições acima das convenções estabelecidas pela Lei.

          Até hoje não ficou esclarecido se o Brasil foi descoberto em 1500 por acaso ou se era uma determinação de Portugal para Cabral aqui desembarcar e apossar das terras. Em 1808, a família real de Portugal veio para o Brasil dando um “golpe” em Napoleão Bonaparte que invadiu Portugal na esperança de dominar aquele país. Quando dom João voltou a Portugal aqui deixou seu filho para numa eventualidade assumir o governo: um “golpe”. Em 1822, dom Pedro desobedeceu ao chamamento para regressar a Portugal e decretou a Independência do Brasil, dando um “golpe” em Portugal. Em 1889, o marechal Deodoro deu um golpe na monarquia decretando a República que ficou conhecida como República do café-com-leite, ou seja, por um tratado, “golpe”, quem governava o país era São Paulo (café) depois Minas Gerais (leite), assim sucessivamente. Em 1930, num “golpe” o gaúcho Getúlio Vargas assume o governo, dá um novo “golpe” em 1937, decretando o Estado Novo e saiu em 1945, ao receber um “golpe” militar que o depôs. Volta em 1951 e governa até 1954, quando pela imposição de um “golpe” militar para deixar o governo depois de ser acusado de um atentado contra Lacerda, se suicida comum tiro no peito.  Eleito Juscelino Kubitschek, só pôde tomar posse depois que o General Lott, deu um “golpe” destituindo Carlos Luz para que JK pudesse assumir a presidência da República e construir Brasília.  Jânio Quadros renunciou em 1961, quando o seu vice Goulart estava em viajem à China, pretendendo dar um “golpe” de Estado, que não deu certo. João Goulart só tomou posse depois de um “golpe” militar que criou um Estado Parlamentar. Em 1964, a nação sofreu um “golpe” militar que sufocou a democracia brasileira por 21 anos. Em 1985 Tancredo, foi eleito pelo Colégio Eleitoral, mas morreu antes de assumir a presidência da República, morte inexplicável, seria um “golpe”? Em 1990, assume a presidência Fernando Collor, que destituído por um impeachment, orquestrado pela grande mídia, “meio golpe”. Em 1916, depois de ser eleita para o segundo mandato a presidenta Dilma sofre um ataque ininterrupto da mídia e de grupos de direita contra a política dos programas sociais. O congresso orquestrado com interesses internacionais não a deixa reagir às dificuldades impostas pela crise internacional. Um governo democrático é dividido em Legislativo que faz as leis (nesse período não aprovou nenhuma lei para ajudar o país, pelo contrário as chamadas pautas bombas eram aprovadas com o intuito de agravar a situação que mergulhava o país, como se quisessem que o navio afundasse com todos os brasileiros dentro). O judiciário completamente imparcial preocupado somente com o aumento dos seus salários e pretendendo um poder acima dos outros, ou seja, acima da própria Constituição Brasileira. 
          Michel Temer é a imagem da República Brasileira, ou seja, o “golpe”, a mentira, a hipocrisia, e o mais triste de tudo isso é saber que não temos voz suficiente para alertar “o povo marcado e feliz” que caminha para o abatedouro.

domingo, 6 de novembro de 2016

O NOME E A HISTÓRA DO PRATA: 143 anos






ÍNDIOS GUAICURUS
          A cidade do Prata foi fundada numa região das mais inóspitas do nosso país. Para atravessar o Triângulo Mineiro era preciso passar por índios equestres, os Guaicurus  guerreiros que possuíam de 6.000 a 8.000 cavalos. Nas águas poderíamos contar com os seus aliados os Paiaguás, que escondiam dos tiros dos bandeirantes debaixo de suas canoas viradas. Os Caiapós eram os mais numerosos hostis, violentos e canibais. Os Bororos aliados dos bandeirantes construíam aldeias ao longo da estrada Anhanguera para proteger os garimpeiros que iam para as minas de Goiás. Formaram-se assim os primeiros núcleos de povoamento do “Sertão da Farinha Podre”. Antes dos Bororos muitos burros foram encontrados com os seus arreios cheios de ouro pastando e por perto seu dono morto pela fome.

ÍNDIOS CAIAPÓS
          Também por aqui foram construídos vários Quilombos o mais importante deles foi o do Ambrósio. Destruído por Bartolomeu Bueno, neto do bandeirantes Anhanguera.  Com o fim do ouro e a necessidade de terras novas para a criação de gado muitos vieram para o Triângulo a procura de terras férteis. O avô do avô do meu avô, Antônio Joaquim de Andrade construiu a primeira Câmara em 1870. E em 1873, o presidente da Província de Minas Geris, Venâncio José de Oliveira Lisboa, sancionou a lei na 2002, de 15 de novembro, que elevou a vila do Prata à categoria de cidade do Prata.           
          Os nomes das cidades eram geralmente naquele tempo, associados a lugares, a nomes indígenas ou nomes de santos. Uberaba, referente ao rio Uberaba, nome indígena que significa água clara. O Prata, também referente ao rio da Prata, onde teria sido encontrado um machado de prata. As pessoas mais antigas sabem corretamente formular frases como: “sou do Prata e sou molhado”. As pessoas que não sabem da verdadeira origem do nome da nossa cidade fazem confusão dizendo: “cidade ‘de’ Prata”. Nunca por aqui encontramos prata, não temos casas prateadas nem tiramos o segundo lugar, com medalha de prata.
         

ÍNDIA BORORO, dando aula ao filho
A língua portuguesa admite na sintaxe a metáfora (exagero) “estou morto de fome”, a metonímia (troca de nome) “vamos tomar um porto”, a elipse (a omissão de uma palavra ou expressão), subentendidas na frase. Por exemplo: na queda nenhum arranhão. O nome da nossa cidade é: “cidade do Rio da Prata”. Tiramos (Rio da) fica: “cidade do Prata. No sul temos a Bacia do Prata. Aqui em Minas Gerais também temos a cidade de São Domingos “DO” Prata. Portanto em 15 de novembro a república faz 127 anos e O Prata faz 143 anos VIVA “O” PRATA.

domingo, 23 de outubro de 2016

O AMOR




          Os gregos usavam três palavras para conceituar o amor: Eros, Filia e Ágape. O amor é uma força sublime que nos aproxima do Bem, do Justo e do Belo. O amor é uma chama que acende naturalmente no coração. Quando o amor é puro e verdadeiro praticamos sempre o bem, o ético e o correto. Não se mata por amor, isso é uma distorção.

          Amar não é um sentimento, é uma decisão, uma escolha em ato. Amar é um verbo e o fruto dessa ação é o amor. Amar é semelhante à jardinagem: arrancamos o que faz mal, preparamos o terreno, semeamos as sementes regamos, cuidamos e aguardamos com paciência. A vida vivida sem amor não tem sentido.

          Platão denominava o amor de Eros, semideus (daimon) da mitologia grega que transmitia aos deuses as necessidades dos homens. O amor para o filosofo é a busca da beleza, da elevação em todos
os níveis. Entre os deuses e os homens se coloca o amor. O amor nos impede de esquecer, porque nos atrai para a beleza, assim, vivifica a nossa alma. Mas, Eros é desejo e quando saciado pode ser esquecido.

          Aristóteles define o amor com a palavra Filia, que significa amizade. O amor deve ser bom para os dois. A presença do amado já basta para alegrarmos. Se uma parte deixa de ser útil ou agradável a outra cessa de amar. Devemos aprender a excelência do amor, a disposição permanente para a Filia, gera em nós através do hábito um aperfeiçoamento para o amor. A amizade perfeita nos habitua a sempre querermos o bem um do outro.

          Jesus Cristo pregava o amor Ágape, que é a essência da ética. Quem ama faz o bem, é ético, é correto. O seu mandamento era amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo. Ágape é o amor do amante que não precisa ser amado, o seu amar basta. É uma doação desprovida de interesse, não ama porque procura o belo, o bem, o bom; ama porque é bonito e compensador amar. Ama sem a necessidade de ser amado, ama a criança, não porque é sua, mas a ama porque a criança existe.

          Eros, também conhecido como Cupido é o amor desejo e paixão. O egoísmo e o ciúme podem acabar com esse amor. A Filia, o amor amizade mesmo procurando a excelência pode sofrer a falta de companheirismo e o desinteresse do outro e também findar. Mas Ágape é a essência do amor e não necessita de reciprocidade ele por si só se basta. Um exemplo, dizem que madre Teresa de Calcutá estava lavando as feridas de um doente, quando alguém lhe disse: não daria banho nesse leproso nem se me pagassem um milhão. A madre teria lhe respondido, nem eu, só lavo porque é por amor. Pessoas morreram na boate Kiss tentando salvar vidas ali, isso é o amor Ágape.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

PLANO DE AULA: SARTRE


Roteiro da aula: O SER E O NADA.
                                                              "Só as coisas são: não tem senão   exteriores consciências não são: fazem-se”. *               

1.0. O SER E O NADA. A principal obra de Sartre é O ser e o nada, publicada em 1943.  “Nessa obra ele ataca a teoria de Aristóteles da potência”. (COTRIM. 2013, p.309). Para Sartre o ser é o que é, mas o ser humano é o ente para si, é um espaço aberto, um nada. O nosso corpo é ser em si, a consciência é
um vazio que possibilita a mudança do ser e possibilidade de escolhas. A consciência (para-si)
constata que a consciência posicional não pode ser consciência posicional de si mesma. A consciência interroga a si mesma numa atitude de reflexão (voltar-se para si mesmo). A consciência ao colocar-se como objeto, nadifica seu ser. A consciência é cheia de nada e nesse sentido como aquilo que é o que não
é, e não é o que é, a consciência humana é nada. A consciência é posicional e define-se pela intencionalidade. A intencionalidade traz o fato de o mundo estar fora da consciência, ou que ela é sempre falta. Toda consciência, mostrou Husserl, é consciência de alguma coisa. Significa que não há consciência que não seja posicionamento de um objeto transcendente, ou, se preferirmos, que a consciência não tem "conteúdo". Uma mesa não está na consciência, sequer a título de representação. Uma mesa está no espaço, junto à janela, etc. Toda consciência é posicional na medida em que se
transcende para alcançar um objeto, e ela esgota-se nesta posição mesma: tudo quanto há de intenção na minha consciência atual está dirigido para o exterior, para a mesa. Portanto, a presença da consciência diante de si instaura a distância de si com relação a si mesma, distância esta, definida como nada de ser. Dizer que a consciência vem do nada significa que: “1° nada é causa da consciência; 2° ela é causa de sua própria maneira de ser” (SARTRE, 1997, 27).

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

OS MEUS EUS.


Possuímos vários eus que correspondem às nossas diferentes personalidades. Às vezes queremos e ao
mesmo tempo não queremos uma mesma coisa. A indecisão e dificuldade em escolher é resultado dos nossos diversos eus. A maioria dos pensadores destacam apenas dois eus, ou seja, uma paixão e uma razão. O agir seria dirigido por um lado pelos impulsos concupiscentes e do outro pela moderação, resultado de um pensar reflexivo.
        Para Platão  esta dualidade é representada por dois cavalos, um cavalo branco que protagoniza a razão e um preto a paixão. A carroça da nossa vida está presa por esses dois cavalos. Quando a razão é vencedora, o cavalo branco está mais forte; quando é a paixão, o cavalo preto está puxando com mais vigor. Platão considera a sabedoria como ápice da felicidade, se conheço faço a escolha certa. Portanto só o branco pode me trazer felicidade.
        Hume afirmou que a razão sozinha não é capaz de agir. A paixão é que nos impulsiona para atingir o objeto do nosso desejo. Quando almejamos, queremos algo ou alguém, somos impelidos, e a partir daí, refletimos qual é a melhor maneira para conseguir suprir ou realizar essa paixão. A razão pela razão não busca nada é preciso a avidez. Mas não possuímos somente uma paixão, queremos concomitantemente muitas coisa às vezes conflitantes. Temos dúvidas entre escolher isso ou aquilo, e são às vezes tão terríveis que se escolhemos uma estaremos insatisfeitos, mas se escolhermos a outra estaremos insatisfeitos do mesmo modo. Como diria Sartre, "a liberdade nos condena a ter que fazer escolhas".
        A religião cristã acredita que somos orientados por dois entes opostos: o anjo da guarda e o demônio. O anjo procura nos proteger, enquanto o diabo quer nos seduzir utilizando de simulação, ou seja, nos tapeando. Nietzsche compreende a personalidade humana como a soma de vários eus, ou variadas paixões. Todos esses desejos são um dilema que carregamos sobre os ombros. Temos necessidades de nos sentirmos queridos e também de querer outra pessoa. Também necessitamos de bem estar físico, sentir prazer através dos sentidos. Prazer espiritual através dos pensamentos reflexivos e contemplativos. Precisamos de nos sentir importantes, ou seja, que os outros nos vejam com resignação ou inveja. Queremos acumular muitas coisas só para o nosso deleite mental.
        Percebemos o mundo de maneira dual, de um lado o bem do outro o mal, de um lado o microcosmos e do outro o macrocosmos. De um lado estou eu do outro o mundo. E nessa perspectivas vamos escolhendo os nossos caminhos, assim como num computador, de maneira dicotômica. Como podemos convencer um eu que quer algo que prejudica aos demais eus que habitam em mim? Essa é a verdadeira arte da vida.