domingo, 17 de janeiro de 2016

A SUPERAÇÃO DO HUMANO


Conheça a ti mesmo

        Alguns definem o homem como um animal racional. Podemos  também dizer que somos animais, mas também humanos, ou seja, temos sentimentos e características  que são peculiares somente a nossa espécie. O homem sapiens surgiu a mais ou menos 300 mil anos atrás. Antes existiram nossos ancestrais (hominídeos) que teriam surgido a 4 milhões de anos. Todo esse tempo foi responsável pela transformação do ser humano de hoje. Que é o resultado de um processo biológico e cultural de hominização.

        O homem é o primeiro ser a se emancipar da natureza. A natureza foi até a pouco a grande controladora da vida, mas perdeu seu posto para o homem moderno que passou a escravizar a natureza para realizar seus mesquinhos interesses. Agora como déspota controla e norteia os designíos que lhes são próprios. O Planeta não vai suportar o peso da ambição humana por muito tempo. Mas, a maior crise é do próprio ser humano que está doente de espírito e do corpo.
                                                                                                                                                      
 O humano tornou-se demasiadamente humano é preciso superar mais essa etapa. A necessidade de sobreviver frente aos animais predadores e as guerras entre os povos, fez do homem um ser solidário e organizado sobe hierarquias determinadas. A criação do Estado possibilitou a divisão em  classes e divisões sociais. A civilização moderna provocou uma devastação e depredação da natureza. As doenças aumentam em detrimento da sua insatisfação com o ritmo e a falta de sentido da sua própria vida.

        É preciso resolver primeiro esta crise do próprio ser humano: um animal com características demasiadamente humanas. É preciso fazer a síntese: da tese, animal e da antítese humano. Não podemos mais ser intransitivos com os nossos objetivos, é preciso descobrir em nós mesmos todas as nossas querências e fraquezas para decidir o nosso rítmico e o da natureza. “Conheça a ti mesmo”: conhecer não é procurar no nosso íntimo um eu escondido mas é criar um eu que abarque todas as nossas vontades. Essas vontades devem ser mínimas e o anseio pela liberdade o máximo possível. O primeiro mandamento deve ser amar primeiro a Terra depois os outros animais.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O TRABALHO DIGNIFICA?

                                            

        Em última instância, o trabalho é produzido para transformar a natureza com o objetivo de obter sustento e bem estar, criando determinadas relações sociais. Cada um desenvolve habilidades que outros necessitam, assim precisamos de pedreiros, advogados, dentistas, médicos, lixeiros, etc.
        O trabalho pode ser penoso ou forçado. A palavra trabalho é derivada de um aparelho de tortura chamado "tripalhium", que era no Império Romano para castigar os escravos. Na antiguidade os escravos trabalhavam no pesado construindo templos, pirâmides, palácios. Os mestres orientavam as a construção das obras. Na Idade Média quem trabalhava no pesado eram os servos, que sustentavam todas as necessidades dos nobres. Hoje quem precisa trabalhar são as pessoas que não possuem meios de produção e são obrigado a venderem sua força de trabalho para um patão ou empresa.
        O trabalho hoje representa o meio de sobrevivência, para os operários. Uma das maiores preocupações dos trabalhadores é serem despedidos e ficarem desempregados. O salário é o responsável para muitos, como a única maneira de se sustentar numa vida digna. Quando o trabalhador gosta do seu serviço, isso lhe trará satisfação. Nesse sentido o homem faz de seu trabalho algo prazeroso de acordo com sua vontade e consciência. Mas, se o operário não se realiza no trabalho, então é uma tortura que lhe trará doenças físicas e mentais. O pensador Carl Marx, afirma que a divisão do trabalho nas fábricas alienou o trabalhador de sua produção. O operário que só aperta parafusos não tem nenhuma identidade com os produtos que a fabrica comercializa.  
    No Brasil convivemos ainda com o trabalho infantil, que é todo aquele realizado por crianças e adolescentes que ainda não possuem a idade   mínima legal para trabalhar. O trabalho infantil não é trabalho escravo quando há salário, mas é tão revoltante e desumano como a escravidão. Ainda é grande o número de crianças que trabalham e isso não vai mudar tão cedo. A população brasileira não tem instrução para denunciar estes casos, somente os fiscais é que acabam encontrando e processando o dono do estabelecimento.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A EXTIÇÃO DO AMOR

“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há
                           sempre, também, alguma razão na loucura. 
                              (NIETZSCHE, Assim falou Zaratustra, p.57)
                                                         )   
                
        A definição de amor pode ser muito extensa ou muito resumida. Alguns poemas de amor são prolixos e mesmo assim parecem não dar conta de abarcar todo o escopo do amor. O amor é a aprovação e afirmação do outro é um desejo de estar junto com o outro. O amor é uma tentativa de penetrar no outro ser, mas só pode ser realizado sob a condição de que a entrega seja mútua.
        O amor dá força e motivação para os seres construírem algo que possa melhorar e trazer mais prazer às suas vidas. É imaginado, abstrato, por isso a dificuldade que se tem de defini-lo. Amar não pode ser um ato egoísta, é um ato ético porque nos defronta perante a figura do outro. O amante não ama diretamente o outro mas a ideia que ele faz do outro. Alguns amores podem ser platônicos porque nunca podem ser correspondidos. O amor só existe plenamente quando o amante é também amado.
        Quando só um ama, o amor não se completa, é como o inseto hipnotizado pela luz da lâmpada. O inseto é amante, mas a lâmpada não tem nenhuma relação com o inseto. O amor tem perdido muito com o sistema capitalista e descartável que vivemos. As trocas de parceiros, tem criado um querer muito transitório que não permite o amor. A paixão pode se transformar em amor com o tempo, mas o tempo parece correr tão depressa que o amor cada vez mais se torna raro.
        Se quisermos salvar o amor temos que repensar o sistema de vida que estamos construindo. Algumas virtudes criam o ambiente necessário ao nascimento do amor: a fraternidade, o companheirismo, a empatia, a simpatia. O egoísmo e a busca desesperada por bens materiais transforma em deserto a terra fértil onde nascia o amor. Antes que o amor seja extinto é preciso que façamos uma revolução em nós mesmos e no sistema de Estado que tem nos tutelado para que deixemos de ser humanos para nos tornar homens e mulheres insensíveis e robotizados.                                              


sábado, 2 de janeiro de 2016

TCC de ANTONIO GRAMSCI

 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
JOÃO DONIZETI ALVES TEODORO











FORMAÇÃO E INTELECTUAL ORGÂNICO EM ANTONIO  GRAMSCI
















UBERLÂNDIA, MG
2015
JOÃO DONIZETI ALVES TEODORO









FORMAÇÃO E INTELECTUAL ORGÂNICO EM ANTONIO  GRAMSCI





Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Filosofia, do Instituto de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Filosofia

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Maria Said












UBERLÂNDIA, MG
2015


JOÃO DONIZETI ALVES TEODORO






FORMAÇÃO E INTELECTUAL ORGÂNICO EM ANTONIO  GRAMSCI




Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Filosofia. do Instituto de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Filosofia.
           
Orientador: Prof.ª Dr.ª Ana Maria Said







Aprovado em ____/____/_______.



BANCA EXAMINADORA

                    ______________________________________________________
Profa. Dra. Ana Maria Said (Profa. Orientadora)

    ___________________________________________________
Prof. Dr. Anselmo Tadeu Ferreira (Prof. Arguidor)


AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus alunos que me incentivam de maneira direta ou mesmo de maneira indireta quando despertam em mim a vontade de oferecer-lhes uma educação de qualidade.

A todos os professores que tive nos cursos de História e Filosofia, alguns me deixaram fortes impressões intelectuais.

À minha professora orientadora, que me mostrou a possibilidade de perceber que podemos construir um mundo socialista, melhor e mais humano: Professora Ana Maria Said.

Agradeço (in Memoriam) aos meus avós, Neorcio Teodoro de Assunção e Maria Batista Rezende Nunes Teodoro que foram os responsáveis pela minha primeira educação.

E à minha companheira de jornada Kátia Beatriz Sousa Resende.




RESUMO
Esse trabalho busca dentro da filosofia de Antonio Gramsci uma metodologia de educação adequada aos explorados ou subjugados. A escola sob a orientação do Estado acaba por transmitir a ideologia dominante. Gramsci defende uma escola única afinada com os princípios da revolução socialista. A escola gramsciana busca dar especial atenção para o projeto educacional que toca diretamente ao conceito de formação omnilateral.
A presente pesquisa visa contribuir para o desvelamento ideológico do capitalismo, norteando o trabalho de construção de outros rumos, através do projeto de emancipação do homem proposto pela filosofia de Marx, proficuamente tratada por Gramsci. Este esforço pretende a superação do senso comum, que exige domínio de teorias, conceitos e categorias de análise, com métodos de reflexão crítica e rigorosa que propicie uma nova concepção de mundo. Uma nova cultura compatível com a hegemonia que se quer e pode ser buscada no ensino público. A escola daria respostas mais completas às questões da formação humana, desvelando os enigmas colocados pelas estratégias dominantes.

Palavras-chave: Escola única, formação omnilateral, hegemonia e intelectual orgânico.




ABSTRACT
This job search within the philosophy of Antonio Gramsci a methodology adequate education to exploited or subjugated. The school under the guidance of the State ends up transmitting the dominant ideology. Gramsci argues for a single school in tune with the principles of socialist revolution. The Gramscian school seeks to give special attention to the educational project that touches directly to the concept of omnilateral training.
This research aims to contribute to the ideological unveiling of capitalism, guiding the construction work of other paths through the man's emancipation project proposed by the philosophy of Marx, usefully treated by Gramsci. This effort aims to overcome common sense, which requires domain theories, concepts and analytical categories, with methods of critical and rigorous reflection that provides a new conception of the world. A new culture compatible with the hegemony that want and can be searched in public education. The school would give more complete answers to the questions of human formation, unveiling the enigmas posed by dominant strategies.

Keywords: Only school, omnilateral training, hegemony and intellectual organic



SUMÁRIO



1 INTRODUÇÃO


Um professor, diferentemente de outros profissionais, não sai da escola e deixa de ser professor, não tiramos o jaleco e vamos descansar em casa. Continuamos com o pensamento nos planejamentos de aula, nas avaliações e, principalmente, se estamos contribuindo com a construção de uma sociedade melhor e mais humana. É imbuído por esse pensamento que buscamos em Antonio Gramsci recursos teóricos e práticos para adequar a condução do meu trabalho educacional.

Considerando que a educação é sempre uma atividade intencional, a ser medida pela referência a uma finalidade ou projeto, ela configura práticas sociais movidas por interesses inerentes à cultura, felicidade dos indivíduos e sobrevivência da espécie humana. Essa afirmação mesma já é uma interpretação que só poderia manter-se no interior de algum debate sobre a educação. A educação pode ser entendida como um grande laboratório, um campo de desenvolvimento de interpretações e perspectivas sobre o homem, sobre o que seria bom acontecer em seus diferentes ciclos de vida, infância, adolescência e diferentes fases da vida adulta. O debate sobre a educação envolve, pois, muito mais que teorias parciais sobre o homem, interpretações pedagógicas, psicológicas, históricas ou filosóficas. Além de ser permanente e continuada, ou, de combate entre interpretações rivais sobre o homem, o debate da educação pode configurar um diálogo total do homem com ele mesmo.

Gramsci, materialista histórico, foi um pensador ligado a todos os problemas de seu tempo e deu grande importância à educação.  As crises constantes do sistema capitalista parecem atingir a escola de diversas maneiras. As estratégias que os dominantes apresentam são: novas metodologias e reformismos teóricos. Uma delas é promover a associação pacífica e acrítica dos programas pedagógicos. No ensino médio recebemos novas leis e decretos um após o outro, quando assimilamos o conteúdo de um, este já está revogado por outro recente. Nessa perspectiva esse trabalho busca compreender através das análises gramscianas uma nova posição para o professor frente aos problemas que surgem de todas essas estratégias educacionais elaboradas, se não são apenas paliativos, também não alcançam bons resultados.

A questão principal desse trabalho é buscar e analisar as preocupações que levaram o pensador sardo a debruçar-se  sobre questões educacionais, suas propostas metodológicas para uma educação que promova a elevação dos menos favorecidos. Como fazer a elevação dos subalternos, como conduzi-los à cultura e fazê-los atores da história? Qual a posição do professor frente ao processo revolucionário? Como conduzir a educação para favorecer o aparecimento de novos intelectuais orgânicos?

Esse estudo procura perscrutar a filosofia de Antonio Gramsci priorizando os temas relacionados à educação. Nessa perspectiva teremos um longo caminho a percorrer, porque este pensador deu destaque à educação em vários períodos de sua vida. Algumas vezes preocupado com a educação dos companheiros, outras de modo geral, e outras vezes com a educação de seus próprios parentes.

No primeiro capítulo vamos abordar a escola como espaço de aprendizado para a vida, suas limitações, como o professor pode superar as dificuldades e como contribuir para uma formação omnilateral do educando. Pesquisaremos na filosofia de Gramsci qual deva ser o desenvolvimento direcionado ao ensino infantil. A instrução deve ser imposta ou deve-se contribuir para que a educação seja buscada pelos alunos?

No segundo capítulo procuraremos entender como o professor pode ser também um intelectual orgânico e como contribuir para a concepção de uma vida superior aos subjugados. Como a escola deve buscar uma educação ampla para o completo desenvolvimento do aluno. Conceitos gramscianos como a guerra de posição podem ser pensados juntamente com os ensinamentos da sala de aula. Desenvolver estudo para contribuir com a construção da hegemonia das classes subalternas e como podem ser ligadas à outras instâncias culturais.

No terceiro capítulo discutiremos a metodologia gramsciana ligada à formação do homem novo preocupando-nos com a separação dos interesses da classe subalterna e os interesses da classe dominante. O que, na escola, encontra-se geralmente subtendidos nas diretrizes curriculares. Analisaremos os conceitos gramscianos, principalmente os ligados diretamente à educação, como: o “conformismo”, “o intelectual orgânico”, “a revolução passiva”, a guerra de posição, e outros que por ventura aparecerem no desenvolver desse trabalho.

Pretendemos buscar na filosofia de Gramsci fundamentos para melhor compreender as atuais diretrizes educacionais e curriculares brasileiras, para forjarmos um novo homem. O que significa para Gramsci formar um cidadão, entendendo este como alguém que possui “o direito de ter direitos”? Quando uma educação confere ao educando a possibilidade de com sua experiência de vida aprender a se tornar sujeito de sua aprendizagem?

Sabemos que estudar Gramsci é embrenharmo-nos na difícil missão de descortinar os caminhos de luta pela emancipação humana. Essa causa que hoje pode nos parecer quase perdida se considerarmos os sobressaltos do capital e a qualquer custo. A questão que se põe é a da formação humana, da educação pelo trabalho, pela configuração do trabalho associado, o qual exige a apropriação dos meios de produção e do conhecimento pela massa de homens trabalhadores.





2 O INTELECTUAL, O PROFESSSOR E A ESCOLA




“Instruí-vos, porque precisaremos da vossa inteligência. Agitai-vos, porque necessitamos de todo o vosso entusiasmo. Organizai-vos, porque teremos necessidade de toda a vossa força.”

                               Gramsci em “L’ Ordine Nuovo”[1]

Partimos do fato que o capitalismo tenta tirar dos indivíduos a sua natureza, castrar seus instintos e transformá-los em trabalhadores domesticados de acordo com suas necessidades. Mas, é uma luta constante porque o ser humano também tem suas preferências e cria estratégias para resistir às imposições. Gramsci mostra que a produção capitalista tenta construir um homem dócil para possibilitar sua maior exploração e alienação. E defende ainda que o intelectual orgânico, que além de especialista na sua profissão, que o vincula profundamente ao modo de produção de seu tempo, elabora uma concepção ético-política que o habilita a exercer funções culturais, educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o domínio estatal da classe que representa. Para Gramsci, “orgânicos” são os intelectuais que fazem parte de um organismo vivo e em expansão. Por isso estão conectados ao mundo do trabalho, às organizações políticas e culturais, assim como os professores. Como professor de filosofia e história do ensino médio sinto-me envolvido nesta situação.

Antonio Gramsci considera que o empresariado capitalista, entendendo-se numa posição superior, cria para se proteger um aparato técnico científico composto por cientistas de economia política. Se não todos os empresários, pelo menos uma elite deles deve possuir a capacidade de organizar a sociedade em geral, em todo o seu complexo organismo de serviços, até o organismo estatal, tendo em vista a necessidade de criar as condições mais favoráveis à expansão da própria classe; ou pelo menos, deve possuir a capacidade, os “prepostos” (empregados especializados), a quem confiar esta atividade organizativa das relações gerais exteriores à empresa.

Gramsci afirma que em todas as épocas e em suas diversas formas de produção, sempre estiveram presentes seus intelectuais orgânicos e suas crises ou, o fim de uma determinada sociedade deveu-se sempre à capacidade destes intelectuais reorganizarem a estrutura daquela forma de produção. O autor afirma que apesar de qualquer homem poder ser considerado um intelectual, nem todos os homens têm na sociedade a função de intelectuais.  E cita como exemplo o fato de que alguém poder em determinado momento fritar ovos, não significaria que ele seja um cozinheiro. Formam-se assim, historicamente, categorias especializadas para o exercício da função intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas, sobretudo em conexão com grupos sociais importantes, e sofrem elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante. Ele acredita que uma característica importante é a assimilação dos intelectuais tradicionais e que a escola sempre foi o lugar em que se formaram os novos intelectuais orgânicos de um novo regime de produção. “A escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis”. (GRAMSCI, 1991, V2, C 12 p. 19).

Os intelectuais para Gramsci são os prepostos do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político. Ele destaca duas vertentes, a primeira é conseguida pela confiança e prestígio da classe por causa de sua função no mundo da produção; a segunda vem do aparelho de coerção estatal que assegura “legalmente” a disciplina quando desaparece o consenso espontâneo. Mesmo que esta ampliação do conceito de intelectual seja ampliada, só assim se torna possível chegar a uma aproximação concreta da realidade. Gramsci entende que numa sociedade existem graus que distribuem os intelectuais de acordo com a sua importância. Nos mais altos postos estão os cientistas, filósofos e artistas. Nos mais modestos estão os administradores da riqueza intelectual e os militares que oferecem um modelo destas complexas graduações: oficiais superiores e subalternos. Gramsci chama a atenção dos inferiores, sargentos e cabos, cuja importância é superior ao que habitualmente se crê, porque os estratos inferiores manifestam um “espírito de grupo”. Pode-se destacar dois tipos de intelectuais: do tipo urbano que colaboram com a execução de produção estabelecida pela indústria; os intelectuais de tipo rural que são ligados à massa do campo e os da pequena burguesia, de cidades menores.

Para muitos, o partido político é nada mais do que o modo próprio de elaborar sua categoria de intelectuais orgânicos. É, precisamente, o mecanismo que realiza na sociedade civil a mesma função desempenhada pelo Estado. Fazem a ligação entre o grupo dominante e os intelectuais tradicionais. Os intelectuais formados no Brasil, nos séculos XVI e XVII, caracterizavam-se pelo tipo rural, ligados ao clero e aos grandes proprietários e tiveram grande influência da maçonaria e do positivismo[2].

Gramsci acredita que as escolas estão cada vez mais destinadas a preparar as pessoas para um futuro profissional, tornando-se cada vez mais escolas profissionais, nas quais o destino do aluno e sua futura atividade são predeterminados. Para o pensador italiano, a escola deveria assumir a tarefa de inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los elevado a um certo grau de maturidade e de capacidade para a criação intelectual e prática e uma certa autonomia na orientação e na iniciativa. “O problema didático a resolver é o de abrandar e fecundar a orientação dogmática, que não pode deixar de existir nestes primeiros anos”. (GRAMSCI, 1991, V2, C 12 p. 35).

Para ele, é preciso reorganizar e vivificar de alto a baixo, das escolas às universidades. Unificar os vários tipos de organização cultural existentes, integrando o trabalho acadêmico tradicional. É necessário construir um mecanismo para selecionar e desenvolver as capacidades individuais da massa popular, que são hoje sacrificadas e definham em erros e tentativas sem perspectivas. “A finalidade é obter uma centralização e um impulso da cultura nacional que fossem superiores aos da Igreja Católica”[3]. (GRAMSCI, 1991, V2, C 12 p. 41).

Para Gramsci, a consciência da criança não é algo “individual”: “é o reflexo da fração de sociedade civil da qual a criança participa, das relações sociais tais como se aninham na família, na vizinhança, etc”. (GRAMSCI, 1991, V2, C 12 p. 44). Naturalmente a escola luta contra o folclore, contra todas as sedimentações tradicionais de concepção do mundo. Pode-se dizer que na escola o nexo instrução-educação somente pode ser representado pelo trabalho vivo do professor, na medida em que o professor é consciente dos contrastes entre o tipo de sociedade e de cultura que ele representa e o tipo de sociedade e de cultura representado pelos alunos. Um professor medíocre pode conseguir que os alunos se tornem mais instruídos, mas não conseguirá que sejam mais cultos.

2.1 A escola única


Para Gramsci, a escola foi separada da vida. O fato de a escola não ter acompanhado uma mudança radical de um determinado modo de vida, separou a escola da vida e isso determinou a crise na escola. Gramsci já pressentia na escola de sua época uma profunda crise da tradição cultural e da concepção da vida e do homem, caracterizando um processo de progressiva degenerescência. As escolas de tipo profissional, isto é, preocupadas em satisfazer interesses práticos imediatos, predominam sobre a escola formativa imediatamente desinteressada. O aspecto mais paradoxal reside em que esse novo tipo de escola aparece e é louvado como democrático quando, na realidade, não só é destinado a perpetuar as diferenças sociais, como ainda a cristalizá-las.

Gramsci acredita que para destruir essa trama é preciso não multiplicar e nem hierarquizar os tipos de escola profissional, mas criar um tipo único de escola preparatória (primária-médio) que conduza o jovem até os umbrais da escolha profissional, formando-o neste tempo como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige. A multiplicação de escolas profissionais tende a eternizar as diferenças tradicionais, dado que tende, nestas diferenças, a dar a impressão de promover democracia. Mas, é também a escola, um local de lutas hegemônicas entre as classes fundamentais da sociedade capitalista. Ana Maria Said afirma que a escola é responsável pela educação que seja capaz de formar os homens e os cidadãos, a partir dos conteúdos que são ensinados e da maneira como os ensinamos. “Cabe, então, à escola, a função formativa do homem entendida em sentido amplo, e, por fim, a formação ético-política do cidadão”. (Said, 2014, p.107).

Se se quer destruir esta trama, portanto, é necessário não multiplicar e hierarquizar os tipos de escola profissional, mas criar um tipo único de escola preparatória (primária-média) que conduza o jovem até os umbrais de escolha profissional, formando-o, durante este meio tempo, como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige. A multiplicação do tipo de escola que Gramsci conceitua como profissional[4], tende a cristalizar as diferenças tradicionais, mas, dado que pretende, nestas diferenças, criar estratificações internas, faz nascer a impressão de ter uma tendência democrática. “Na realidade, retorna-se às divisões em “ordem” juridicamente fixadas e cristalizadas em vez de se superar as divisões em grupo: a multiplicação das escolas profissionais, cada vez mais evidenciam manifestações desta tendência”. (GRAMSCI, 1991, V 2, 12 p.59). O problema principal do que poderíamos chamar de professor orgânico, é ir além do ensino proposto pela classe dominante, não ensinar somente o necessário à profissionalização dos alunos, mas um conteúdo além, que possa despertar neles um olhar crítico. Karl Marx, no prefácio de “Para a crítica da Economia Política”, de 1859, faz um resumo dos seus estudos:

na produção social da própria vida, os homens constroem relações determinadas, necessárias e independente de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, político e espiritual. Não é consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. (MARX, 2000, p. 52).

Este é o problema principal do intelectual orgânico, fazer ver aos explorados, que a realidade que se mostra, nem sempre é a verdadeira. É uma tarefa árdua e conflitante, de um lado o professor na escola, e do outro todos os meios de comunicação da classe dominante. A escola é encarregada da tarefa de sistematizar o aprendizado do aluno. Ana Said afirma que como a escola se insere na prática social, pode também agir como instrumento de transformação da esfera da vida política da sociedade, podendo contribuir para a capacidade crítica que permite uma visão histórica do mundo, das contradições do real. Para ela, a formação humana é determinada então, pela realidade social, precisamos, como professores, abrir para os alunos o véu de Maia, ou seja, mostrar-lhes uma concepção de mundo mais ampla, para que apareçam as contradições desta sociedade. Assim, como professores da escola pública, estaremos cumprindo o papel de informar e formar cidadãos conscientes da exploração que sofrem no mundo em que vivem e, assim, possibilitar o desejo de libertar-se dessa contradição. Ana Said afirma que:

A participação efetiva de todos na esfera da cultura exige uma revolução econômica, pois é o sistema capitalista, com o seu modo de produção e suas relações de produção, que fazem dos conteúdos culturais uma espécie de propriedade da classe dominante, que impede o acesso da grande maioria da população aos bens culturais; os excluídos, sabemos, é a classe trabalhadora. (SAID, 2014, p.109).

Marx foi preciso em dizer que no sistema capitalista os meios de produção são dominados pelos proprietários, e o modo como o homem produz sua existência material determina suas relações. Apesar de mais de um século depois, com algumas reestruturações feitas pelo capitalismo, com alguns modos diferentes de exploração do trabalhador: o trabalho terceirizado, as franquias, as empresas de sociedade anônimas, a contradição básica continua sendo a mesma entre capital e trabalho.

Segundo Gramsci, na Universidade não há muito contato do aluno com o professor, somente na conclusão do curso é que o estudante se aproxima do professor, pede-lhe um tema e conselhos específicos sobre o método de pesquisa científica. Alguns professores tendem a formar uma “escola” própria, tem seus pontos de vistas determinados (chamados de “teorias”) sobre determinadas partes de suas ciências, por “seus seguidores ou discípulos”. Antonio Gramsci continua:

Na própria faculdade existe concorrência entre professores de matéria afins na disputa de algum jovem que já tenha distinguido por causa de uma resenha, de um artiguinho ou em discussões escolares (onde elas são realizadas). Nesse caso, o professor realmente guia o seu aluno. Foi este um dos elementos que determinou a sorte da dupla Croce-Gentile, antes da guerra, na constituição de um grande centro de vida intelectual nacional; entre outras coisas, eles lutavam também contra a insuficiência da vida universitária e contra a mediocridade cientifica e pedagógica (e mesmo moral, por vezes) dos professores oficiais. (GRAMSCI, 1991, C 12, p. 30).

Mais adiante, Gramsci afirma que na realidade, toda geração educa a nova geração, isto é, forma-a; e a educação é uma luta contra os instintos ligados às funções biológicas elementares, uma luta contra a natureza, a fim de dominá-la e de criar o homem “atual” à sua época. Não se leva em conta que o menino, desde quando começa a ver e a tocar, talvez poucos dias depois do nascimento, acumula sensações e imagens, que se multiplicam e se tornam complexas com o aprendizado da linguagem. O aprendizado é constante e faz parte de todo o tempo em que estamos acordados, a escola é parte relativamente pequena desse processo. A diferença se faz pelos professores que conseguem despertar em determinados alunos um interesse específico para uma área do conhecimento. Muitos alunos chegam a escolher determinadas profissões por interferência de professores queridos. Gramsci conclui definindo a escola única e sua função:

De resto, a escola é somente uma fração da vida do aluno, o qual, entra em contato tanto com a sociedade humana como a societas rerum, formando-se critérios a partir destas fontes “extraescolares” muito mais importantes do que habitualmente se crê. A escola única, intelectual e manual, tem ainda esta vantagem: a de colocar o menino em contato, ao mesmo tempo, com a história humana e com a história das “coisas”, sob o controle do professor. (GRAMSCI, 1991, C 12, p. 62).

O trabalho do professor é árduo. Mas os resultados positivos nos enchem de alegria; assim como um atleta, o professor sofre com a repetição e com os exercícios, mas cada vitória tem um sabor imensurável. Os jovens de agora marcados culturalmente pelos vídeos da televisão, cinema, computador e celular, valorizam a imagem em detrimento da oralidade ou da leitura. Essa é mais uma das dificuldades encontradas pelo professor e ao mesmo tempo a de competir com a ideologia burguesa atrás dos entretenimentos apresentados aos telespectadores. Isso tudo mescla-se com uma sociedade decadente, em que a vocação e a honra já não gozam de crédito; agora a moral é de ordem estética. Uma virtude apreciada é a generosidade, porém o ato generoso, tal como o concebe a direita, não é uma resposta a um apelo vindo de fora, nem sequer é motivado pelas necessidades do próximo: “é um pretexto para o homem superior manifestar a sua ‘nobreza vital’”. (Simone de BEAUVOIR, 1955, p. 94).Essa ideologia quer convencer aos outros e a si mesma, a burguesia, que, ao defender seus interesses particulares tem em vista, fins universais. A tarefa confiada aos seus “ideólogos” é inventar uma justiça superior em nome da qual a injustiça seja justificada, afirma Beauvoir. Nesse universo contraditório, o professor, como “intelectual orgânico”, deve contribuir para fazer aflorar os germes da transformação. Porque o que nos move como professor militante é a vinculação com a classe trabalhadora, e o ideal de promover um projeto socializador que faça reconhecer os subjugados como sujeitos políticos de direitos.

2.2 Abolição da propriedade descortina a exploração


A escola que predomina  hoje no Brasil, traz resquícios e a marca da industrialização tardia e do regime militar. Inspirada na linha de montagem de uma fábrica, que fragmentava o trabalho humano tendo em vista o aumento da produtividade. A escola brasileira se caracteriza também pela fragmentação, pela segmentação como modo de ação, como método. A vida escolar se organiza em séries, e os saberes se dividem em diversas disciplinas, sem conexão umas com as outras, ministradas em aulas de 50 minutos, que ainda se anunciam por um sinal sonoro. O espaço é sempre muito segmentado, dividido por inúmeras salas e corredores, com pouco espaço de convivência, com pouca circulação. O objetivo é segmentar, para aumentar a produção, o país precisa produzir mão de obra em massa para suprir a engrenagem industrial que continua desenvolvendo. A escola para todos, é uma escola de massa, que se estruturou como a linha de montagem de uma fábrica, e que tinha como alvo formar mão de obra para o mercado, especialmente para a indústria, mão de obra assalariada.

Em fim uma escola que se pretendia para todos, mas que tinha uma meta determinada. Não como a escola que propunha o escritor e pedagogo Comenius, que nasceu na Morávia no século XVII e escreveu a Didática Magna, pensando uma escola pública. Sua utopia era: “ensinar tudo a todos” (COMENIUS, 1997, p.160). O Estado não deveria interferir na didática, mas também não medir esforços econômicos para a educação. O pedagogo é quem teria a palavra autorizada para a utopia sociopolítica. Todos entrariam juntos na escola, não importa se homem ou mulher, pobre ou rico, para frequentar uma escola comum. Ele, contudo, adverte que, efetivamente, a existência de uma “juventude diversificada”, poderia colocar sob suspeita a possibilidade de que todos sejam instruídos nos “fundamentos de todas as coisas”:

Dirás: Já que existem entendimentos tão obtusos, a esses não será possível inculcar nada. [...]. Chegarão, no entanto, a objetar: A alguns não é aptidão para os estudos o que lhes falta, mas sim inclinação, e por isso é inútil e cansativo obriga-los contra a sua vontade. (COMENIUS, p. 44-45).

Talvez, pode-se pensar, estamos analisando a filosofia de Gramsci, em relação ao conceito de “intelectual orgânico”, e podemos perguntar: o que a didática tem a ver com essa análise? Mas, também estamos pensando no engajamento do professor, sobretudo o professor de filosofia, com a possibilidade de instruir os seus alunos para esse conhecimento. E nessa perspectiva temos que analisar todos os percalços do ensino, e a possível dificuldade em despertar nos alunos a filosofia revolucionária de Antonio Gramsci. Manacorda, em seu livro, O princípio educativo em Gramsci,  analisando os primeiros escritos de Gramsci sobre sua preocupação com a escola livre e a liberdade na escola, constata que ele a entende como a escola clássica, ao mesmo tempo que perde terreno frente à escola técnica na Itália setentrional, transforma-se na escola típica da Itália meridional, que serve para formar, a partir dos segmentos pequeno-burgueses, os quadros de uma burocracia cada vez mais corrupta; “e o problema parece insolúvel, a menos que o Estado renuncie ao monopólio escolar ou o reduza a proporções mínimas, como propunha o professor Giovanni Gentile”. (MANACORDA, 2013, 2°ed, p.33). Mas essa perspectiva da redução é realizada em consciente oposição as pretensões dos religiosos. Manacorda cita uma organização dos escritos de Gramsci de 1915-1921, organizadas por Sérgio Caprioglio:

Nós, socialistas, devemos ser propugnadores da escola livre, da escola deixada à iniciativa privada e às comunidades. A liberdade na escola somente será possível se a escola for independente do controle do Estado! (MANACORDA, 2013, p.33).

A iniciativa privada, essencialmente das entidades locais e das associações, dos partidos, configura-se como uma das vias alternativas para a educação, ao lado da escola oficial, nas quais Gramsci irá trabalhar daí em diante. Nesses anos, Gramsci ainda é partidário da escola clássica, que é, para ele, a parte melhor da escola italiana; “ele deve, entretanto, reconhecer que essa escola ideal ‘se perverteu’, por causa das deficiências dos homens e da incapacidade da classe dirigente”. (Idem, 2013, p.33).

Maria Tereza, imperatriz da Áustria, quando da criação da comissão da Corte para o Estado, em 1760, para cuidar da instrução, sublinhou que “a instrução é sempre um ato político”. Sua posição define bem uma conquista fundamental da consciência dos tempos modernos: “ A educação agora é assunto estatal, é coisa do Estado, ” conforme expressou Manacorda, na História da Educação. (Idem. 1999, p.247). Mais à frente, ele cita Rapporto al re, de 1809, cuja obra  defende uma escola universal, uniforme e completa, porém, numa estrutura conforme as classes sociais: “É necessário que exista uma instrução para todos, uma para muitos e uma para poucos”. (Rapporto al re, apud Manacorda, 1999, p.256). Essa obra mostra claramente a proposta de perpetuar a divisão da sociedade em classes, pelo referido autor. Para Manacorda, o ensino mútuo era a resposta a este imensurável medo dos conservadores, o medo de que a instrução pudesse “perturbar o Estado” (Manacorda.1999, p.258). Continua:

O fundamento é ainda a natureza humana, que por ser semelhante em todos os homens deve ser desenvolvida em todas as suas faculdades (Capacidades físicas e intelectuais) e em todos os homens. A educação não pode ser compreendida em um só aspecto. Neste sentido, fez a proclamação da universalização da educação do saber a todas as classes sociais. Porém mantem a compreensão da destinação profissional, embora se participe de elementos comuns que fazem o fundamento das forças humanas. Assim, Gramsci defende que não seria legítimo limitar ou negligenciar a possibilidade de desenvolvimento de qualquer criança. (Idem, 1999, p.265).

A educação moderna parte da premissa de que “formar” é usar de meios e mecanismos racionais especialmente planejados para tal fim. Comenius, citado acima, afirma que é fundamental a transferência do corpo infantil, da esfera da família para a esfera do educador na escola, se é que “todos devem saber tudo”, de outra maneira, não poderia ser levada a cabo a generalização do ensino dentro do macroprojeto escolar. A aliança escola família entra no discurso comeniano garantindo o cumprimento do ideal, pansófico em todas as suas possibilidades. É através do discurso comeniano que a educação escolar universal se situa sob o âmbito político – isso é, sob o âmbito dos educadores.

2.3 A história do industrialismo


Influenciada pela indústria algumas escolas foram inspiradas na linha de montagem de uma fábrica, isto é, estão ligadas à ideia que Gramsci desenvolve em “Americanismo e fordismo”, elas surgiram de modo genérico, da necessidade imanente de chegar à organização de uma economia programática e que os diversos problemas examinados deveriam ser os elos da cadeia que marcaram precisamente a passagens do velho individualismo para o programático: “estes problemas nascem das várias formas de resistência que o processo de desenvolvimento encontra em sua evolução. Formas que provém das dificuldades presentes na societas rerum e na societas hominum”. (Gramsci. 1934, Cad. 22, p.241).

Para Gramsci a história do industrialismo foi sempre uma luta contínua contra o elemento “animosidade” do homem, um processo ininterrupto, frequentemente doloroso, de sujeição dos instintos às normas e hábitos de ordem, de exatidão, de precisão, mais complexos e rígidos, que tornam possíveis as formas cada vez mais complexas de vida coletiva. Assim, conclui-se que a escola brasileira foi criada com o mesmo objetivo e com as mesmas estratégias usadas nas fábricas para chegar nos mesmos fins de disciplina e ordem. Além de ainda carregar a herança do regime militar, que vigorou no Brasil a partir de 1964, a educação brasileira se tornou refém de um sistema disciplinar que nomeia como “grade” o currículo, como “disciplina” os conteúdos, como “prova” o dispositivo de avaliação. Até bem pouco tempo o superintendente de ensino era chamado de delegado(a), a superintendência, de delegacia. Mas ainda temos o inspetor(a), que é temido na escola pública ou privada, por que é ele quem aplica as advertências e conduz processos contra os estabelecimentos de ensino que por ventura tenham cometido irregularidades. A filosofia foi eliminada, só recentemente retornou ao currículo escolar, nas escolas de Ensino Médio. Eliminou os saberes reflexivos e críticos em prol de um modelo fundado na repetição e na passividade. Não a criatividade, a inteligência viva, mas o bom comportamento, a disciplina, a ordem.

A escola brasileira, ainda guarda o modelo da escola como um reformatório, uma prisão. Sem contar os efeitos castradores e redutores causados pelo medo que o regime instalou com seus modelos de vigilância, que afastou professores comprometidos e atuantes na sociedade, proibiu livros, restringiu condutas. Os professores e os intelectuais foram o grande alvo deste regime, e a formação dos jovens e crianças, a grande prejudicada. (COSTA, 2015, p.62 – 63).



Com este regime, a escola acabou se tornando um espaço isolado, explicitamente afastado das questões que movem a vida das pessoas, afastado dos desafios da vida em sociedade.

Ao mesmo tempo, as crianças, desde que entram na escola, vão sendo treinadas a ver o mundo apenas a partir de si mesmas, de sua condição social, que pode ser de “vencedor” ou “perdedor”, de arrogância ou de revolta e jamais são estimulados a ver a sociedade como um todo, com suas infinitas contradições e desafios”. (COSTA, 2015, p.64).

É nessa escola e com essa perspectiva arraigada no costume e na tradição que o professor vai trabalhar para mostrar a verdadeira realidade. Se, por um lado, a fragmentação respondia à necessidade de produzir uma educação “em massa”, por outro, atendia à fundamentação ideológica do novo regime, avesso à reflexão e à crítica, como mostram as denominações que ainda hoje usamos: inspetor, grade curricular, disciplina, prova. E esta falta de inserção não é apenas prejudicial para as relações humanas, a justiça social, e uma atitude sustentável e ética, mas implica diretamente grau de angústia e solidão que impele cada vez mais ao consumo de produtos, de pessoas, de drogas lícitas e ilícitas. Participar do todo da sociedade nos dá uma sensação de pertencimento, nos envolve em projetos coletivos, nos dignifica e sustenta. Mas a escola foi se afastando dessa continuidade, e baseando-se em um conhecimento dividido e abstrato. Não formamos pessoas, mas fragmentos desconectados.

A hiper-especialidade, o ensino voltado ao “científico”, movido pela euforia tecnicista, os inúmeros conteúdos, sem conexão entre si, sem contexto – nos levaram a uma sociedade que desaprendeu o valor do todo, do global, do complexo. E nos tornamos especialistas cada vez mais fragmentados, desvinculados das grandes questões humanas, sociais e planetárias. E vamos vivendo acoplados a uma parcela tão pequena da realidade que chegamos a esquecer quem somos, o que buscamos. (COSTA, 2015, p.64).

O professor imbuído e comprometido com a filosofia gramsciana, além de pensar estratégias de posicionamento frente às ideologias dominantes, ainda tem que lutar nesse espaço fragmentado, quando “a escola se separou da vida” como afirmou Gramsci. Os altos índices de evasão escolar, os baixos rendimentos dos alunos, o desinteresse e a falta de estímulo que atinge quase todos e a violência, parecem revelar a exaustão de estruturas muito antigas e a necessidade de reconstrução. Precisamos de uma escola, tendo como alvo a vida, em todas as suas dimensões, e não apenas uma escola voltada para o mercado de trabalho. Uma escola que não se acovarde diante das perguntas mais difíceis, como a morte, a dor, a violência, a discriminação social e racial, mas que construa espaços onde essas questões sejam discutidas, pensadas.

Na história das discussões sobre a educação, pode-se afirmar que a cultura é o exercício do pensamento, então se todos podem pensar, então todos são cultos. Mas, se não existe uma necessidade real de instrução, a educação não existe. Para que a instrução se torne necessidade, Gramsci escreveu em Città Futura, “será necessário que a vida geral seja mais estimulante” (S. G., p. 81Apud Manacorda, 1013, p.37), isto é, que o ambiente permita e promova. (Ibid.,). ” É uma relação indivíduo-ambiente, ativismo-promoção, espontaneidade-organização: para que ocorra a educação, Gramsci aconselha: “comecem aos poucos, nada é mais eficaz, pedagogicamente, que o exemplo”  ( Ibid.).  A satisfação de uma instrução desinteressada, poderá ser a premissa de uma educação de todos para a formação de homens completos.



3 O EDUCADOR COMO INTELECTUAL ORGÂNICO



A filosofia busca a superação do senso comum, essa superação, exige o domínio de teorias, conceitos e categorias de análise. Renê José Trentin Silveira no livro “O Transversal e o Conceitual no ensino de Filosofia” da Edufu, nos lembra que, o preconceito contra a filosofia, em considerá-la difícil para o entendimento das camadas populares: “ se explica historicamente pela divisão da sociedade em classes e pela separação entre trabalho intelectual e trabalho manual. (Silveira, 2014, p,273)”. A superação dessa questão deve vir pela transformação da estrutura social e pela luta cultural. A criação de uma nova cultura compatível com a hegemonia que se quer, pode ser buscada no ensino público. Sua definitiva eliminação, portanto, supõe, em última instância, a superação da forma de sociedade. Para ele, a luta pela transformação da estrutura social,

deve vir acompanhada de uma luta cultural, visando à renovação da mentalidade popular e à criação de uma nova cultura, mais compatível com a  nova sociedade que se pretende instaurar e com as novas relações de hegemonia que se devem estabelecer. (SILVEIRA, 2014, p.273).

Ainda, com método de reflexão crítica e rigorosa que propicie uma outra concepção de mundo. A filosofia de Antonio Gramsci busca conduzir as pessoas de pensamento simples a uma concepção de vida superior:

A Filosofia da práxis não busca manter os “simples” na sua Filosofia primitiva, do senso comum, mas busca, ao contrário, conduzi-los a uma concepção de vida superior. Se ela afirma a exigência do contato entre os intelectuais e os simples não é para limitar a atividade científica e para manter uma unidade no nível inferior das massas, mas justamente para forjar um bloco intelectual-moral que torne politicamente possível um progresso intelectual de massa e não apenas de pequenos grupos intelectuais. (GRAMSCI, 2001, Cad. 11, p.103).

A superação da “Filosofia” do senso comum não se dá espontaneamente, imediatamente. Antes, requer a mediação dos intelectuais comprometidos com a causa dos subalternos. Os professores precisam estar em permanente contato com os “simples”, assim, para esses intelectuais, o trabalho filosófico passa a ser concebido:

não mais apenas como elaboração individual de conceitos sistematicamente coerentes, mas, além disso, e sobretudo, como luta cultural para transformar a mentalidade popular e divulgar as inovações filosóficas que se revelem historicamente verdadeiras. (GRAMSCI, 2001, Cad.10, p. 398).

Essa socialização do saber filosófico requer do professor que ele esteja em contato com as pessoas do povo. Nesse caso, a escola representa a posição privilegiada para a realização efetiva desse contato, dado o grande número de pessoas que atinge. (Silveira, 2014, p. 274). O professor atua no âmbito das superestruturas ou, na expressão gramsciana, na esfera da “sociedade civil”, da qual faz parte e, entre outras instituições, está a escola.

O preconceito afasta muitas vezes as pessoas da classe trabalhadora desse estudo, excluindo-as de se apropriar das ferramentas culturais que a Filosofia poderia lhes proporcionar e que lhes seria de grande utilidade para compreender melhor o mundo ao seu redor e nele intervir mais efetivamente, em conformidade com seus interesses, conclui Silveira.

A historicização do pensamento filosófico é fundamental nas aulas de filosofia, para que os estudantes percebam que ela resulta do esforço de cada pensador para dar respostas a problemas concretos de sua época. Portanto, o estudo da filosofia é um processo dinâmico que contribui para a tomada da consciência das contradições sociais, dando ensejo a uma ação libertadora, afirma Ana Maria Said:

Já que podemos entender a educação como uma atividade mediadora no seio da prática social global, ela é importante para a apreensão das contradições e, consequentemente, instrumento destinado à melhor compreensão do mundo em que vivemos, e possibilidades de sua transformação. (SAID, 2014, p. 110).

Ana Maria Said, afirma que Gramsci preocupava-se com a questão da educação em sentido amplo, como reforma intelectual e moral. Uma educação que busque o fim do capitalismo, com a criação de uma “nuova civiltà”, uma nova “ordem civilizatória”, uma “nova cultura”, a partir da hegemonia da classe trabalhadora. Escreve: “ Ele afirma que é através da crítica à cultura (civiltà) capitalista que se formou, ou está se formando, a consciência unitária do proletariado”. (Said, 2014, p. 111). A reforma intelectual e moral seria a elevação cultural das massas trabalhadoras. Então,

a nova “Civiltà” se vale do acesso aos códigos dominantes, do conhecimento dos direitos e deveres, e a capacidade de exigi-los, situações que anteriormente geravam o conformismo e a adesão, mas que, graças à escola unitária, podem educar para a transformação da ordem a partir do conhecimento do contraditório do sistema capitalista. Graças à educação formal, segundo Gramsci, o “panorama ideológico” de uma época pode ser modificado, um processo que somente se concretiza a partir da conquista do Estado juntamente com as transformações políticas e econômicas. (SAID, 2014, p.111).

A escola, quanto mais ligada à realidade e à cultura, mais poderá contribuir para a formação da cidadania, pois passará a atuar na organização política, além de possibilitar o caminhar para a humanização integral do homem. E já que nos fazemos homens historicamente, uma crise orgânica é um momento de possibilidade de mudanças e transformações da realidade, afirma Ana Said.

 A crise orgânica é a mudança morfológica das forças que organizam e guiam o crescimento civil dentro de uma determinada formação social. Traz consigo a possibilidade do desenvolvimento posterior que uma formação social tem em seu seio, com a potência criativa dos sujeitos agregando-os e orientando os vários reagrupamentos sociais para o confronto de classes na sociedade capitalista. Seria, para Gramsci, a guerra de posição, baseada na função dos sujeitos na História. (SAID, 2014, p.113).

        A escola deve ser para Gramsci, o lugar de educar os alunos, tendo em vista um projeto revolucionário, para formar uma outra e nova sociedade. Podemos pensar a escola como participante da “guerra de posição”, porque é o lugar de se posicionar e preparar os “instrumentos” e as estratégias para a guerra de movimento. A guerra de posição, para Gramsci, antecede a “Revolução”. É o movimento certo, que aproveita de uma crise do Capitalismo, para criar uma nova civilização. Embora o partido seja o lugar em que se processa a passagem dos componentes do grupo social de nível da atividade econômica àquele da atividade intelectual e política, mas, é na escola que se adquire base teórica para que se aprofunde a compreensão das principais exigências teóricas da realidade.

Maria Socorro Militão, nesse mesmo livro, afirma que Gramsci assimilou o conceito de reforma intelectual moral do filosofo e historiador francês Joseph Ernest Renan (1823-1892) que, em sua obra “A reforma intelectual e moral” (1871), desenvolveu um modelo de educação popular que propunha uma “revolução intelectual e moral” para a França, similar à Reforma Protestante alemã, apresentando-a como elemento de elevação civil das massas. Escreve: “Para Gramsci, as ideias de Sorel sobre a urgência de uma reforma intelectual e moral continha, ainda que de modo intelectualista e dispersa, ‘uma concepção da filosofia da práxis como reforma popular moderna’”. (Militão, 2011, p.138). A passagem dos “simples” ou como querem alguns, “subalternos”, para uma posição mais “elevada”. Faz parte desse interesse de Gramsci:

O extrato dos intelectuais se desenvolve quantitativa e qualitativamente, mas todo progresso para uma nova amplitude e complexidade do estrato dos intelectuais está ligado a níveis superiores de cultura e amplia simultaneamente o seu círculo de influência com a passagem de indivíduos ou mesmo de grupos mais ou menos importantes, para o estrato dos intelectuais especializados. (GRAMSCI, 2001, V1, p. 104-105).

Segundo Ana Maria Said, a estratégia de Gramsci para uma reforma intelectual e moral, seria a transformação na concepção de mundo e da moral dominantes. “Teria início antes mesmo da transformação da sociedade capitalista, e continuaria até à consolidação de uma “nuova civiltà”, que deve suceder a revolução. Uma reforma intelectual e moral não se faz possível sem que haja uma ascensão civil das camadas subalternas da sociedade”. (Said, 2014, p.107).

Os homens são sujeitos da história e não apenas instrumentos passivos de determinações materiais ou espirituais. “Assim, a filosofia da práxis se enraíza simultaneamente na imanência e na concepção subjetiva da realidade pelo fato de que a inverte, explicando-a como fato histórico”. (Militão. 2011, p.140). Na realidade, é um ato prático, o homem é impensável fora da história das relações sociais e pelo trabalho organizado socialmente. Em vista disso, Gramsci defende uma revolução cultural promovida a partir de um método que se inicie das experiências concretas de todos os trabalhadores, valorizando-as e estudando-as coletivamente, de forma que o grupo todo se torne o educador de si mesmos, organicamente, elevando o nível cultural de cada um em conjunto. Esse processo de transformação parte da crítica da civilização capitalista, pois é por meio dela que se formará “a consciência unitária do proletariado e a crítica, quer dizer cultura, e não evolução espontânea e naturalista”. (Gramsci, 1976, p.95).

Assim, podemos afirmar que o objetivo da estratégia de construção do socialismo no estágio avançado de desenvolvimento do capitalismo: a guerra de posição e a reforma intelectual e moral, são imprescindíveis. É de suma importância para a emancipação dos homens, porque é através delas que será possível construir a hegemonia das classes subalternas e iniciar, lenta e gradualmente, o processo de superação do capitalismo, na contemporaneidade. Por meio dessa revolução cultural, seriam criadas as condições de construção de uma nova sociedade, de uma nova ordem civilizatória que possibilitasse a liberdade dos homens. A nova sociedade terá autonomia para agir e se apropriar do valor produzido por seu trabalho, possibilitando, assim, uma emancipação política e humana.

Nesse processo, a construção da hegemonia das classes subalternas estaria ligada à formação política em sentido mais amplo. Os formadores e os educadores, além do partido, são as instâncias culturais, assim como a escola, a imprensa, o sindicato, a arte, isto é, todos os aparelhos privados de hegemonia presentes no interior da sociedade civil contemporânea.

 3. 1 CONCEPÇÃO DE MUNDO


A educação parece ter sido uma das principais preocupações intelectuais de Gramsci. Uma dúvida que se pode afirmar que o persegue, mesmo antes da prisão, é como deveria ser a linha ideológica a ser preterida, ou preferida pela pedagogia educacional. Manacorda, no livro “O princípio educativo em Gramsci”, cita registro em várias Cartas que foram enviadas aos seus familiares, em que manifesta essas preocupações. Uma educação espontânea ou naturalista, onde ele cita o realismo de Rousseau, e do outro lado, uma educação mais austera ou autoritária, como a que ele recebeu em sua infância. Numa carta endereçada a Tania, sua cunhada, em tom de brincadeira, ele diz que uma dúvida em relação ao cultivo das plantas o persegue. Ao longo do muro do pátio da prisão ele plantou sementes que Tania tinha lhe enviado e que parecia demorar muito para crescerem, por isso ele, registra:

Todos os dias me vem a tentação de puxá-las um pouquinho afim de ajuda-las a crescer, mas permaneço inerte entre as duas concepções de mundo e de educação: se devo ser rousseauniano e deixar em paz a natureza que não se equivoca, mas é fundamentalmente boa, ou se devo ser voluntarista e forçar a natureza introduzindo na evolução a mão habilidosa do homem e o princípio da autoridade, (MANACORDA, 2013, C.123, 22/04/1929, p.80).

Essa incerteza, em tom de brincadeira, na verdade é uma preocupação que acompanha as reflexões de Antonio Gramsci. Até aquele momento a incerteza não se dissolvera na cabeça dele. Nesta questão, Manacorda vai buscar respostas, na trajetória da vida de Gramsci desde a infância até o amadurecimento intelectual do pensador:

Conhecemos as premissas: o duro tirocínio de sua carreira escolar, a formação cultural essencialmente idealista do início, a atividade educativa de sua militância política e, finalmente, a paternidade recente, frustrada pela prisão e pela emergente discordância educacional com a família, constituem uma trama de experiências, muitas vezes, disformes e contraditórias, com as quais Gramsci não conseguira ainda amadurecer uma opção coerentemente aprofundada e motivada. Mas é chegado o momento de fazê-la. Essa alusão, em tom de brincadeira, da carta a Tania assinala, na realidade, o momento da reviravolta; é de se acreditar que, realmente, as duas ideologias pedagógicas, a ativista e a voluntarista, se debatessem agora na cabeça de Gramsci. ” (MANACORDA, 2013, p. 80).

A partir desta data, Gramsci parece tomar uma posição mais efetiva em relação à educação e ter uma concepção mais rigorosa da postura do educador. Em discussões com a mulher em relação à educação de seu filho Delio, que ele acreditava não estar desenvolvendo os estudos a contento. Ele considerava que toda a família da esposa tivesse uma postura muito natural com a educação de seu filho, que define como metafísica. Ele passa a rejeitar todo o inativíssimo, como uma hipótese de qualquer forma de metafísica, enfatizando, ao contrário, a existência de uma determinação ambiental. Não por acaso Gramsci retoma aqui uma de suas expressões: “o homem é sobretudo espírito, isto é, criação histórica e sua natureza”, acrescenta Manacorda. Não há mais indício de uma concepção idealista em que a história, se não como uma epifania do espírito, aparece, todavia, como uma criação triunfalista do homem.

Manacorda destaca, aqui, “a história percebida também como condicionamento do homem, como ‘coerção’ (outra palavra-chave da pedagogia gramsciana). Excetuando-se a quase identidade entre as duas expressões”. (Manacorda, 2013, p. 86). Daqui em diante Gramsci rejeita todo inatismo, enfatizando, ao contrário, a existência de uma determinação ambiental que, deixada agir espontaneamente, só pode resultar em desilusões. Afirma: “Gramsci assinala em relação ao autoritarismo jesuítico, uma distância bem maior que em relação ao liberalismo rousseauniano; se não se avalia essas distâncias, elimina-se toda possibilidade de se entender os dois riscos opostos do espontaneísmo e do autoritarismo.” (Idem, p. 87). Descartada qualquer forma de autoritarismo, procura-se elaborar uma concepção original. Para o pensador, a contradição do espontaneísmo, como respeito pela criança traduz-se, na prática, no abandono da criança. Escreve:

Renunciar a formar a criança significa apenas permitir que sua personalidade se desenvolva extraindo caoticamente do ambiente geral todos os motivos de vida. É estranho e interessante que a psicanálise de Freud esteja criando, especialmente na Alemanha (a julgar pelas revistas que leio) tendências similares às que existiam na França do século dezoito; e vá formando um novo tipo de bom selvagem corrompido pela sociedade. Nasce daí uma nova forma de desordem intelectual muito interessante. (GRAMSCI, Carta 402 a Giulia, 1936, p.87)

A partir dessa carta fundamental, a discussão se faz permanente, “ainda que não intensa, não somente com a família soviética sobre a educação dos filhos, mas também com a família sarda em torno da educação dos sobrinhos”. (Manacorda, 2013, p. 89). Por isso, para ele, a educação é uma adaptação ao ambiente, mas também e, sobretudo, uma luta contra esse ambiente, que quer dizer causalidade e caos, para não permitir que este influa. O problema coloca-se como uma opção entre naturalidade e autoridade, isto é, intervenção humana, na pressuposição de que não se pode falar de natureza do homem, mas tão somente de um ambiente historicamente determinado.

Manacorda cita a reflexão de Gramsci em torno da ‘mecanização’ do homem, para retomar o termo gramsciano de 1922. Os seus estudos sobre ‘Americanismo e Fordismo’, refere-se, sobretudo, ás leituras que ele fez dos livros de Ford, Philip e Siegfried. Nesses livros, estudou com interesse as medidas tomadas por industriais americanos para formar homens adaptados à produção industrial:

Ford tem um corpo de inspetores que controlam a vida particular dos funcionários e lhes impõe um regime de vida; controlam também os alimentos, a cama, o tamanho das peças da casa, as horas de repouso e até mesmo coisas mais intimas; quem não aceita é dispensado e não recebe mais os cem dólares de salário diário mínimo. Ford dá um mínimo de seis dólares, mas quer gente que saiba trabalhar e esteja sempre em condições de trabalhar, isto é, que saiba coordenar o trabalho com o regime de vida. (GRAMSCI apud Manacorda,2013, C. 167, 20/10/30, p. 97).

A análise de Gramsci sobre o fordismo é de grande interesse porque ele pensa poder utilizar esse modelo ‘na organização do trabalho intelectual’; essa é a maneira de retomar e aprofundar as hipóteses juvenis de uma escola proletária dotada de todo o controle de fábrica. É evidente que, no intervalo de poucos anos, ele dera um passo enorme na solução de suas dúvidas em torno do risco da ‘mecanização’, inerente seja a uma organização científica do trabalho, seja a uma adequada formação com vistas a esse fim, conclui Manacorda.

3.2 O vínculo da escola com a vida


Deve-se considerar a permanente preocupação de Gramsci, sobre o tema espontaneísmo-voluntarismo. Todavia, devem se considerar, como prova da presença permanente desse interesse na curiosidade intelectual de Gramsci, todas as alusões existentes, nas cartas, a escolas profissionais e aos problemas da especialização, que  nos remetem ao outro e inseparável núcleo de sua reflexão pedagógica: o da formação total e, por isso mesmo, solidamente dirigida e disciplinada. Gramsci propõe a escola única:

 A escola única, intelectual e manual, tem também esta vantagem, a de colocar contemporaneamente a criança em contato com a história humana e com a história das ‘coisas’, sob o controle do professor. (GRAMISCI apud Manacorda, 2013, Carta 140 p.81, 30/12/1929, p. 154).

O discurso sobre a escola unitária nascera como aparente digressão do discurso sobre os intelectuais, a propósito da industrialização da atividade prática e da praticização da atividade teórica. A especialização escolar é intitulada: a escola unitária. Ao pensa-la como parte da função dos intelectuais na sociedade, Gramsci evidentemente considera a escola como uma das estruturas por meio das quais essa função se exerce. Uma nota do Caderno 3-XX, registra Manacorda, afirma um propósito, se não um plano de trabalho, a cargo dos intelectuais:

Um estudo sobre como é organizada de fato a estrutura ideológica de uma classe dominante, isto é, a organização material concebida para manter, defender e desenvolver a ‘frente’ teórica ou ideológica [...] A imprensa é a parte mais dinâmica dessa estrutura ideológica, mas não a única; tudo quanto influi ou pode influenciar diretamente ou indiretamente sobre a opinião pública dela faz parte: desde as bibliotecas, as escolas, os círculos, os clubes de vários gêneros, até a arquitetura, a disposição das ruas e seus nomes. (GRAMSCI apud Manacorda, 2013, p.210-211)

Ao lado da escola, Gramsci destaca sempre outras estruturas educativas como, por exemplo, a imprensa, que para ele tem um lugar privilegiado. Na sua juventude o pensador italiano dedicou-se ao estudo das revistas na escola, que funcionariam como centros de cultura, registrado no Caderno 4-XIII. Em seu discurso, ele acena para uma avaliação histórica do uso dessas ‘estruturas da ideologia’, sublinhando o esforço da Igreja para manter o domínio delas, e a necessidade de que se crie um ‘espírito de cisão’, isto é, ‘uma aquisição progressiva da consciência das próprias personalidades históricas’, por parte da nova classe protagonista e as classes a ela aliadas.

Por essa reflexão gramsciana podemos perceber que hoje essa luta não se encontra somente nas igrejas, mas, principalmente, nos partidos que representam determinadas classes sociais. Esses partidos representantes da classe dominante utilizam-se desses instrumentos de maneira tendenciosa e imparcial para transmitir notícias distorcidas ou mostrar somente um lado dos fatos.[5]

Gramsci no Caderno 6-VIII, segundo Manacorda, preocupa-se, com o que ele denomina de ‘instituições objetivas’, assim ele elabora um catálogo que pode ser útil aos intelectuais:

Um elemento é a língua [,,,] Outro elemento é a cultura. Os partidos políticos. Os jornais. A Igreja. A monarquia. O parlamento. A universidade e a escola. A cidade. Organizações privadas como a maçonaria. A universidade popular. O Exército. Os sindicatos operários, a ciência (voltada para o povo - os médicos, os veterinários, as cátedras ambulantes, os hospitais). O teatro. O livro. (GRAMSCI apud manacorda, 2013, p. 211, C 6 - VIII, p.42).[6]



A heterogeneidade dos ‘elementos objetivos’ elencados é clara, sendo que entre eles nos interessam, sobretudo, a universidade e a escola. Na função dos intelectuais na escola, sobre o vínculo da escola com a vida produtiva e política, nos interessa captar os elementos objetivos, organizativos e estruturais da cultura, e enfatizar a relação deles com a escola. Os partidos, segundo Gramsci, renunciam a uma atividade teórica, cultural, formativa, e isso traz consigo a formação inadequada de dirigentes, a miséria da vida cultural e política, a erudição ao invés da cultura, a superstição ao invés da religião, o jornal e o panfleto ao invés da revista e do livro, facciosismo em vez da política. A escola, e a universidade em particular, estão envolvidas nessa decadência das instituições culturais das camadas dirigentes:

A Universidade, todas as instituições que elaboraram as capacidades intelectuais e técnicas, não permeadas pela vida dos partidos, pelo realismo vivente da vida nacional, formavam quadros apolíticos, com formação mental puramente retórica, não nacional. (RAMSCI apud Manacorda, 2013, p.212)

É a ausência de uma dialética política intensa e a separação consequente entre escola e a vida que criam e perpetuam o caráter retórico e a inadequação didática e cultural da escola. Estudar para aprofundar um determinado campo de noções e estudar para aprender a estudar são coisas distintas:

Trata-se, portanto, da questão do método no ensino universitário deve-se estudar ou estudar para saber estudar ‘fatos’. A prática do seminário deveria justamente complementar e vivificar o ensino oral (Ibid., p.213).

A escola unitária é para o pensador italiano, onde se encontra a raiz do processo da união do trabalho industrial com o trabalho intelectual, que é depois realizado num nível mais alto pelas academias. Nessa escola, os alunos poderiam frequentar uma oficina mecânica ou um laboratório científico, o trabalho manual sendo acompanhado pelo trabalho intelectual. Gramsci denuncia o caráter esnobe de algumas escolas que não constituem um exemplo de unidade entre o trabalho intelectual e manual:

Muitas dessas escolas modernas são precisamente do tipo esnobe, que nada tem a ver (a não ser superficialmente) com a questão de criar um tipo que eduque as classes instrumentais e subordinadas para um papel dirigente na sociedade, como um conjunto e não como indivíduos singulares. (GRAMSCI apud Manacorda, 1013, p.217).

Gramsci vai afirmar que não existe um método por excelência, um método em si. Toda pesquisa científica cria para si própria um método adequado, uma lógica própria, cuja generalidade e universalidade consistem somente em serem ‘coerentes com o objetivo’. O que interessa para Gramsci é a conexão entre lógica e história, entre metodologia do conhecimento e desenvolvimento do gênero humano. O que interessa para a ciência não é tanto o fato objetivo, quanto o homem que o pensa e os instrumentos intelectuais com os quais ele o pensa. A objetividade converte-se na meta de um processo de desenvolvimento, utilizando um termo recorrente de seu vocabulário, de ‘luta’:

A luta pela objetividade seria, portanto, a luta pela unificação cultural do gênero humano; o processo dessa unificação seria o processo de objetivação do sujeito, que se torna cada vez mais, um universal concreto, historicamente concreto. (Ibid.)

No Caderno XI, Gramsci discute o ‘compreender’ e o ‘saber’. Assegura ele, o elemento popular “sente”, mas nem sempre compreende ou sabe; o elemento intelectual “sabe”, mas nem sempre compreende ou, sobretudo, “sente”. Os dois extremos são, assim, o pedantismo e o filisteismo por um lado, e a paixão cega e o sectarismo, por outro. Não é verdade que o pedante não possa ser apaixonado, pelo contrário; o pedantismo apaixonado é tão ridículo e perigoso quanto o sectarismo e a demagogia mais desenfreados. O erro do intelectual consiste no acreditar que se possa “saber” sem compreender e sobretudo sem sentir e ser apaixonado (não só do saber em si, mas do objeto do saber), ou seja, sem sentir as paixões elementares do povo, compreendendo-as e, portanto, explicando-as e justificando-as numa determinada situação histórica e ligando-as dialeticamente às leis da história, a uma superior concepção de mundo, cientificamente e coerentemente elaborada.

Ana Maria Sid, no texto: Sobre Educação, Filosofia e ensino de Filosofia, publicado no livro: O transversal e o conceitual no ensino de Filosofia, argumenta sobre a tarefa do professor educador através das reflexões filosóficas; ela entende que a Filosofia deve-se pautar por exercícios rigorosos e sistemáticos, porque pensa o problema em relação à totalidade, para alcançar a raiz do problema. A filosofia deve buscar a base dos fenômenos históricos. Ana Said, afirma que a tarefa do professor é:

Prestar auxílio ao aluno para o desenvolvimento da capacidade de percorrer a história do pensamento filosófico, para ambos constatarem que o conhecimento metodológico se distingue do senso comum. É justamente esse rigor metodológico que permite ao aluno distinguir, relacionar e compreender as contradições nos fatos perscrutados da realidade. Por isso, essa disciplina não pode ser neutra e deve desempenhar a tarefa de refletir e de criticar a estrutura social a partir da tomada de consciência dos nossos problemas e das principais questões elaboradas pela história do pensamento. Somente a partir dessa reflexão é possível que tal disciplina cumpra seu papel teórico-crítico de problemas que são colocados pelas relações dos homens com a natureza e com os homens, em cada momento histórico. (SAID, 2014, p.117).

Conscientes de que as condições históricas resultam da ação humana, podemos também, praticando outras ações, transformar essa sociedade em uma nova que seja melhor e mais justa. Na 11° Tese sobre Feuerbach, Marx afirma que “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo” (Marx, 1991, p.14). Assim como Marx, Gramsci pensou uma filosofia que pretende unir dialeticamente a teoria e a prática. Compete ao educador a posição de mostrar e fazer ver as contradições que o capitalismo traz à nossa sociedade.




4 A FORMAÇÃO DO HOMEM NOVO


Gramsci coloca o problema da validade ou da “racionalidade”, do “processo de transformação psicofísico” do homem, feito pela indústria. O problema está em saber se a exigência técnica pode ser pensada como concretamente separada dos interesses da classe dominante, se ela pode ser pensada como ligada aos interesses da classe ainda subalterna (Gramsci apud Manacorda, 2013, p.229, C 9 - XIV, p.50[7] Acontece quase sempre que um movimento “espontâneo” das classes subalternas seja acompanhado de um movimento reacionário da direita da classe dominante por motivos concomitantes: uma crise econômica, por exemplo, ocasiona descontentamento nas classes subalternas e movimentos espontâneos de massa, por um lado, e, por outro, determina complôs de grupos reacionários, que se aproveitam da debilidade objetiva do governo para tentar golpes de Estado[8]. Gramsci observa que uma multidão pode levar a comportamentos piores que os individuais, não representando isso uma superação do individualismo, mas, antes, sua exasperação, pela certeza da impunidade e da irresponsabilidade (a coincidência de individualismo e irresponsabilidade será um motivo recorrente nos seus Cadernos) (Manacorda, 2013, p.229).

Desde a sua juventude o filosofo sardo, preocupou-se com a questão do conformismo. O problema está na 'base real' do conformismo; vinculando explicitamente os dois temas, conformismo e americanismo, ele percebe essa base no mundo da produção:

A tendência ao conformismo no mundo contemporâneo, mais extensa e mais profunda que no passado; a padronização do modo de pensar e de agir assume dimensões nacionais ou até mesmo continentais. A base econômica do homem coletivo; grandes fábricas, taylorização, racionalização, etc. (Gramsci apud Manacorda, 2013, p.230, C 7 – VII, p.58).

Gramsci não apenas percebe agudamente essa fonte do moderno conformismo ou coletivismo, mas, ademais, não se assusta com ela; como sempre, não se lamenta dos desenvolvimentos da realidade, não deseja um retorno impossível ao passado; pelo contrário:

A respeito do 'conformismo' social, deve-se notar que a questão não é nova e que o alarme dado por certos intelectuais é apenas cômico. O conformismo sempre existiu, trata-se hoje da luta entre 'dois conformismos', isto é, de uma luta pela hegemonia, de uma crise da sociedade civil. (Ibid., p.58).

        Manacorda lembra que é possível que também aqui, se trate, do conformismo praticado na União Soviética, se bem que toda a argumentação seja perfeitamente coerente e exaustiva também com referência à crise interna do mundo capitalista. “E ele, refutando lamúrias e utopias, indaga-se qual deve ser o ponto de referência para o novo mundo que se acha em gestação, e dá, uma vez mais, uma resposta bem concreta” (Manacorda, 2013, p.230):

O mundo da produção, o trabalho. O máximo utilitarismo deve ser a base de qualquer análise das instituições morais e intelectuais a serem criadas e dos princípios a serem difundidos; a vida coletiva e individual deve ser organizada tendo em vista o máximo rendimento do aparato produtivo. (Ibid., p.58 bis).

Portanto, produção e trabalho constituem o ponto de referência também para a estruturação das instituições intelectuais e morais. Haverá ainda a necessidade de dizer que, dentre essas instituições, encontra-se também, a escola, isto é, a atividade educativa  direta e positiva, ao lado de todas as outras instituições para a formação do produtor e do cidadão. As “novas” bases, a “nova” estrutura, o “novo” conformismo, são todas metáforas que conduzem ao Ordine Nuovo, da sociedade socialista.

Essas afirmações dão às teses relativas à escola unitária um caráter mais concreto. O novo conformismo encontra um critério objetivo com o qual pode avaliar-se e justificar-se, ou seja, a referência à base econômica do homem coletivo, às relações de produção e ao máximo 'utilitarismo' ou 'máximo rendimento', que seja racional,  coerente com a sua finalidade, isto é “o equivalente, no campo sociológico, do critério científico” ( GRAMSCI apud Manacorda, 2013,  p.231, C 6 – VIII, p. 69).

Gramsci considera que o complexo educacional deve ter compromisso social com o seu tempo, expressando seu caráter universal de compreensão da realidade, contribuindo para a generalização do conhecimento, visto que a autêntica atividade educativa não visa uma finalidade prática imediata, mas atingir o plano da universalidade, sua função original figura um momento de consciência de si em determinado momento histórico. Eleva o homem para além de sua continuidade e imediatismo para um plano superior universal e à chegada à consciência, visando à transformação de si mesmo e da sociedade.

Ao colocar o homem como único demiurgo da história Marx inaugurou uma nova filosofia que não precisa de complemento de outros filósofos, pois contempla, em sua dimensão ontológica, todos os complexos da realidade, e a sua filosofia não  se restringe a uma simples análise da sociedade capitalista, mas ao que funda o mundo dos homens, o que funda o ser social. Marx inaugura uma nova concepção de mundo, a Filosofia da práxis.

Na Ideologia Alemã, Marx afirma que a filosofia de sua época se limitava à critica das representações religiosas a partir da religião real e da verdadeira teologia. O progresso, segundo aquelas teses, consistiria em subsumir também as representações religiosas ou teológicas às representações metafísicas, políticas, jurídica ou moral, como consciência religiosa ou teológica, em última instância o “Homem”, como religioso. O domínio da religião foi pressuposto. E, aos poucos, declarou-se que toda relação dominante era relação religiosa. Os velhos hegelianos haviam compreendido tudo, desde que sob uma categoria da lógica hegeliana. Os jovens hegelianos criticavam tudo, introduzindo sorrateiramente representações religiosas por baixo de tudo ou tudo como algo teológico. Esquecem apenas que opõem a estas, fraseologias, e que, ao combaterem os discursos deste mundo, não combatem de forma alguma o mundo real existente. Os pressupostos de que partimos não são arbitrários, nem dogmas. São pressupostos reais de que não se pode fazer abstração a não ser na imaginação. A religião foi considerada por estes filósofos como a causa última de todas as relações repugnantes. (MARX, 1999, p.26).

Partimos do real e criamos imaginativamente deturpações que podem até justificar as dificuldades da vida. E nessa perspectiva a religião é ideologia da classe dominante. A religião, principalmente, a cristã serve de consolo para os menos favorecidos, quando prega que Deus prefere os pobres e os injustiçados e que deles será “o reino dos céus”. Para o cientista político, Francisco Weffort: a religião é o espírito da sociedade burguesa. A democracia política é cristã na medida que ela separa o homem do próprio homem: “não o homem culto nem o homem social, o homem na sua existência acidental como tal, o homem que se corrompeu por toda organização de nossa sociedade, perdido de si mesmo, alienado” (WEFFORT, 1993, V2, p.252).

No Caderno 11, (V1, 2014 p.174), Gramsci aponta que o senso comum afirma a objetividade do real na medida em que a realidade, o mundo, foi criado por Deus independentemente do homem. Essa é uma expressão da concepção mitológica do mundo; ao descrever essa objetividade, incide nos erros mais grosseiros, sem saber estabelecer os nexos reais de causa e efeito. Para o pensador sardo, seria afirmar ser “objetiva” uma certa “subjetividade” anacrônica, já que nem sequer sabe conceber a possibilidade de existência de um concepção subjetiva do mundo. Isso não quer dizer que as ciências são verdadeiras e definitivas. Se nem as ciências são verdades definitivas e peremptórias, também a ciência é uma categoria histórica, um movimento em contínua evolução. “Não exclui a cognoscibilidade, mas a condiciona ao desenvolvimento dos instrumentos físicos e ao desenvolvimento da inteligência histórica dos cientistas individuais” (Gramsci. V1, C11, 2014, p.174). Marx chama a atenção para examinar a história dos homens com muito cuidado porque: “quase toda a ideologia se reduz ou a uma concepção distorcida da história, ou a uma abstração completa dela. A própria ideologia não é senão um dos aspectos da história” (Marx e Engels, 1999, p. 24)[9].

A classe dominante quer transmitir para a classe dos subalternos que o que é bom para ela é bom para toda a sociedade, com a qual a classe dominante se identifica. Quanto mais progride a civilização, mais se vê obrigada a encobrir os males que traz necessariamente consigo, ocultando-os com o manto da caridade, enfeitando-os ou simplesmente negando-os. Em resumo, introduz uma hipocrisia convencional que sequer era conhecida pelas primitivas formas de sociedade e pelos primeiros estágios da civilização e que culmina na declaração de que a classe opressora explora a classe oprimida única e exclusivamente no interesse da própria classe explorada. “E, se essa não o reconhece e até se rebela, isso será expressão da mais baixa ingratidão contra seus benfeitores, os exploradores” (ENGELS, 2009, p.218).

O trabalho é a ação teleologicamente orientada e objetivada, ou seja, é ação constituída, primeiro, pelo momento de planejamento, pela capacidade de projetar antecipadamente na consciência, e, em seguida, o momento que converte aquilo que foi planejado em objeto, causalidade posta, que é tudo que foi feito e produzido pelo homem na sua intermediação com a natureza. Não obstante, devido à totalidade social permeada de determinações, na qual o sujeito ativo e seu produto então inserido, o produto foge ao controle do criador por movimentar séries causais e estar sujeito a determinações sociais e naturais, resultando em consequências imprevisíveis.

Contudo, partindo do pressuposto de que o mundo objetivo foi construído pelo trabalho social, compreendemos que “a reprodução social comporta e, ao mesmo tempo, requer outros tipos de ação que não especificamente de trabalho” (LESSA, 1997, p.23-24). A práxis social mantém com o trabalho uma relação de dependência ontológica e de uma determinação recíproca, além de terem uma autonomia relativa.

A educação que nasce da relação do homem com o homem, fundada pela eterna mediação homem-natureza, surge como complexo universal de transmissão e generalização do conhecimento produzido e acumulado para a geração do ser genérico, lançando mão da linguagem para tornar-se patrimônio da humanidade, para cumprir a função ontológica que, segundo Saviani, é “[...] produzir, direta e intencionalmente, a humanidade que foi produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (Saviani, 2003, p.13). O homem, a cada nascimento, precisa tornar-se homem. Aproxima-se do patrimônio genérico do ser social transmitido através da educação. Assim, o trabalho possui papel determinante na análise do complexo da educação, pois como afirma Tonet, a educação possui uma função essencial na difusão do conhecimento acumulado e da cultura humanística construída historicamente pela humanidade (Tonet, 2007, p.52).

A educação como salientava Paulo Freire, não é bancária, ou seja, o educador não deposita no educando. É um processo de mão dupla: o professor aprende a ensinar e aprende com o aluno. A didática é dialética, na medida em que o aprendiz escolhe o que recebe do orientador de maneira a aceitar ou rejeitar suas proposições. É um obedecer e desobedecer, o que é apropriado, é reelaborado numa conclusão provisória. Esse complexo, a educação, se debruça sobre outras consciências, que são ativas, que também escolhem entre alternativas por não se encontrarem presas a um determinismo natural, manifesta-se nesse caso como teleologia secundária, pois através dela o homem pode agir sobre a consciência de outrem e não só sobre um elemento da natureza, mas em um objeto que também é sujeito. Assim como afirma Sousa, no seu escrito: Gramsci, Educação, Escola e Formação:

Como há uma determinação recíproca entre o trabalho e seus complexos que estão debaixo da totalidade, o trabalho determina a educação, que , em certa medida, de forma sempre e não absoluta, também determina o trabalho, em uma relação dialética entre fundante e fundado (SOUSA, 2014, p.42).

A educação se  desdobra em formas diferentes de acordo com a situação concreta na qual se realiza. No sentido amplo enquanto articulação do singular ao genérico, isto é, apropriação das características humanas próprias do gênero, produzidas pelos próprios homens para a constituição do indivíduo como parte do gênero humano. No sentido restrito, reflete a complexificação do trabalho em cada etapa da história e surge para atender interesses dominantes, oriundos da divisão social, e é utilizado no processo da ordem vigente. Embora haja a determinação da totalidade social, a educação nesse contexto se torna também uma unidade dialética da correlação de forças antagônicas vigentes:

[...]  a educação tal como os outros complexos sociais que são utilizados predominantemente como instrumentos de manutenção da ordem vigente, não é uma esfera fechada, mas, contraditoriamente, como complexo construído pelo homem, traz em si a função de criar novas possibilidades, inclusive a de abrir a vereda para a subversão da ordem vigente. (SOUSA, 2014, p.43).

Para Marx, o trabalho deixa de ser uma atividade livre, com a qual o homem se identifica, e se transforma em uma atividade sob o controle de um outro, em uma potência negativa, estranha e hostil. Neste contexto, o trabalhador, que antes controlava todo o processo de produção, agora se vê estranhado em sua própria atividade, porque esta não lhe pertence, sente-se incompleto, perde-se a noção entre criatura e criador, torna-se apenas apêndice do processo de produção, perdendo sua noção de ser  da sociedade atual, capitalista, torna-se apenas uma mercadoria, imerso em um processo de desumanização.

        Desta forma o trabalho estranhado é o alicerce de todo o processo de alienação, que serve de impedimento ao homem de desenvolver-se em toda a sua potencialidade, ou mesmo de superar tais impedimentos. Utilizando as palavras de Marx, nos Manuscritos Econômicos-filosóficos (Marx,2010d, p.109): “a suprassunção da propriedade privada é, por conseguinte, a  emancipação completa de todas as qualidades e sentidos humanos”. Assim, na vigência da sociabilidade capitalista, embora tenha em sua gênese a função de transmitir os conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, “a educação encontra-se submetida predominantemente à reprodução das relações sociais alienadas postas pela classe dominante, ao difundir seus ideais. ( Sousa, 2014, p. 47). Na ordem do capital, sua função está predominantemente atrelada à do desenvolvimento econômico, como elemento do status quo, da hierarquia social, da divisão de tarefas pela divisão de conhecimento de acordo com a classe, reproduzindo o conhecimento mínimo necessário para o adequado ideal democrático burguês que exige determinados comportamentos, valores e habilidades dos “, cidadãos”, “de forma que impeça a ruptura da ordem social, sobressaindo-se dessa forma, seu caráter estritamente conservador e, na mesma direção, subtraindo-se o seu papel transformador”. (Ibid., p.48).

A natureza do capital de extrair a mais valia para o incremento da sua acumulação não condiz com a satisfação e realização plena de todo o gênero humano, muito menos com uma formação integral do indivíduo, amplamente divulgada e proclamada pela bandeira burguesa de igualdade democrática, “o que significa que, em princípio, todos eles deveriam poder ter acesso ao conjunto do patrimônio humano” (TONET, 2007, p.76). Esse ideal condiz, com a sua própria reprodução pela simples preparação que:     

(de)forma o ser humano na mercadoria força de trabalho para atender seus interesses econômicos. A lógica do capital está para além da negação do acesso, está na negação da qualidade do conhecimento ofertado à classe trabalhadora, tendo no esvaziamento teórico uma grande arma de luta ideológica, a qual sob o estigma de ideais democrático, que em princípio deveriam contemplar a todos sem distinção, desloca para o indivíduo a responsabilidade de seu fracasso pela sua falta de aptidão e qualificação (SOUSA, 2014, p.48-49).

A condição fundante do capital reside no fato de a reprodução depender diretamente da exploração do trabalho que leva ao desenvolvimento das desigualdades sociais, as quais são ofuscadas pelo estabelecimento da igualdade formal. Para manter-se e reproduzir-se, o capital busca novas alternativas para se reorganizar, reestruturando o mundo produtivo e, consequentemente, a atividade educativa, sobretudo o seu sistema ideológico e político de dominação, como ocorreu a partir da década de 1970 com  a queda da taxa de lucro, “caracterizada pela desregulamentação e expansão dos capitais, do comércio, da tecnologia, das condições de trabalho e emprego” (Antunes, 2005, p.32). A lógica destrutiva do capital amplia-se, e assim, recompõe a divisão internacional do trabalho, intensifica sua ação destrutiva contra a força humana de trabalho, eleva profundamente o nível do desemprego estrutural, da precarização do trabalho, da pobreza e da destruição do meio ambiente em escala global, ativa o poder bélico como modus operandi  da produção capitalista, sob a batuta do financiamento do Estado, via complexo industrial-militar. (SOUSA, 2014, p. 49).

4.1 A formação omnilateral do homem


Um significativo marco que ocorreu na década de 1990 foi estabelecido na Tailândia, o conhecido Relatório Jacques Delors, fruto da conferência de Jontiem, no qual são estabelecidos os cinco pilares da educação: aprender a aprender, aprender a ser, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a empreender. Todos esses pilares integram a chamada pedagogia das competências baseada nos métodos ativos originados no movimento escolanovista, focados na lógica do treinamento, os quais integram os planos, parâmetros e projetos políticos-pedagógicos dos países da periferia do Capital, visando a pretensa universalização do ensino. Ensino esse sob o prisma de uma educação que deve ser construída pelo próprio indivíduo, o chamado construtivismo, que, em nome da autonomia absoluta, nega o papel e a importância da transmissão do conhecimento, como assenta Duarte, quando analisa os posicionamentos valorativos do lema “aprender a aprender”: “são mais desejáveis as aprendizagens que o indivíduo realiza por si mesmo, nas quais está ausente a transmissão”. (DUARTE, 2003, p.10).

Nessa perspectiva, a educação aparentemente, é despretensiosamente negada, pois, nega o processo de transmissão do conhecimento socialmente produzido, em substituição ao conhecimento descartável que acompanha a constante modernização tecnológica. Nesse contexto, “a nova educação deve pautar-se no fato de que vivemos em uma sociedade dinâmica, na qual as transformações em ritmo acelerado tornam os conhecimentos cada vez mais provisórios (Duarte, 2003, p.10). Isso em consonância com o “falso socialmente necessário” de estarmos vivendo na sociedade do conhecimento, uma ilusão produzida pelo sistema que cumpre a grande função ideológica de manutenção do capitalismo contemporâneo para” assegurar que cada indivíduo adote como suas próprias as metas de reprodução objetivamente possíveis do sistema” (Meszàros, 20005, p.440). Assim, à classe trabalhadora são dadas apenas pequenas doses dessa educação desmantelada, mínima e aligeirada, é dado somente o suficiente que convém à reprodução do Capital, “que sob o lema do “aprender a aprender” joga o trabalhador na arena da competição pelos postos de trabalho de acordo com a sua capacidade e criatividade de adaptar-se à sociedade do capital”(Sousa,2014, p.51).

A educação, por manter com o trabalho uma relação de autonomia relativa, como assinalava Marx e Gramsci, e pelo fato de o homem ser ativo, e encontrar nas alternativas a liberdade como possibilidade, pode produzir resultados distintos ou ainda contrários aos propostos como objetivos a serem alcançados. Assim, nas instruções aos delegados do Conselho Geral do I Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores, pode-se encontrar:

Por instrução nós entendemos três coisas;

Primeira: instrução intelectual;

Segunda: educação física;

Terceira: treinamento tecnológico que transmita os fundamentos científicos gerais de todos os processos de produção e que, contemporaneamente, introduza a criança e o adolescente na capacidade de manusear os instrumentos elementares de todos os ofícios (MARX, 1866, p.6).

Percebe-se que, para Marx, a formação dos indivíduos demanda a articulação entre teoria e prática, entre manual e intelectual, em uma união indissolúvel, contrapondo-se à formação tal como se efetiva na sociedade capitalista, na qual há explicitamente uma ruptura demarcando um ensino instrumental-profissionalizante aos trabalhadores, fundada em ensino técnico voltado ao preenchimento do quadro de funções inferiores, ao passo que aos proprietários são reservados os conhecimentos mais elevados do ensino clássico.

Destarte, Marx evoca a emergência da formação omnilateral tomar o lugar da formação unilateral, especializada, estranha e alienante. Por isso, compreendemos que não acaso, assenta em primeiro lugar o ensino intelectual, na pretensão de negar todo o conhecimento imediatamente interessado, útil, operativo e instrumental, sobrepondo a este o conhecimento que abra as portas para o mundo do pensamento racional e filosófico que auxilie o homem na compreensão de si mesmo em sua relação com os outros homens (SOUSA, 2004, p. 53).

Nesse contexto, a escola, os educadores[10] têm um papel decisivo na construção dessa consciência, devendo assumir-se estrategicamente como parte de um projeto-político pedagógico que visa à emancipação de toda a sociedade, tendo clareza de que a educação é um dos elementos fundamentais que corrobora com essa construção, que é dialética, posto que não é meramente teórica, mas prática, real.

Nesse desenrolar histórico, Gramsci se aproxima e se firma marxista, não por desconhecimento político-filosófico, mas por verificar as concepções marxianas na práxis social, devido ao seu percurso teórico-prático que o levou ao cárcere e à perda de sua vida. (ibid., p.72).

Embora não tenha tido acesso a todo o legado teórico marxiano, na remoção para outro cárcere em Milão, com tempo suficiente para suas leituras[11] e reflexões, começa a sintetizar seus desdobramentos sobre a educação e a escola em seus escritos, que vão desde a aquisição da língua, que constitui  o instrumento básico do desenvolvimento intelectual, até a introdução do trabalho como princípio educativo na infância. Conforme Fiori(1979), Gramsci contou com dois importantes correspondentes e interlocutores, Tatiana Schucht[12], sua cunhada que o acompanhou em todo o período no cárcere, e Piero Sraffa, um amigo professor universitário, que abriu uma conta para Gramsci em uma livraria. Assim, Gramsci, após receber autorização, tinha material para ler e escrever, ainda que alguns escritos não fossem autorizados pela censura fascista.

Ao final, foram 33 Cadernos, 21 escritos na prisão de Turim. Foram 2.848 páginas ou 4 mil laudas datilografadas.  Apesar da aparência fragmentada, após inúmeras revisões com as chegadas irregulares de livros, Gramsci só conseguiu agrupar organicamente alguns temas. Seus escritos foram fundados na perspectiva marxiana revolucionária, traça, em seus escritos, categorias que proporcionarão uma visão estratégica para a luta pela emancipação humana, ou seja, a criação de um Estado proletário: a sociedade regulada, que, segundo o autor sardo, tem duas fases, a conquista do Estado e seu fim e o estabelecimento da direção pela consolidação social.

Ademais, é necessário destacarmos a atuação política de Gramsci, que buscava elevar o conhecimento da classe subalterna em uma perspectiva revolucionária, para que estes tivessem a oportunidade de desenvolver as condições necessárias ao comando da vida coletiva, bem como, a capacidade de construir a sociedade regulada.[13] O intelectual orgânico tem um papel preponderante, porque o intelectual, mesmo não sendo da classe trabalhadora, ao identificar-se organicamente com esta, deveria direcioná-la para a elevação do seu conhecimento sobre a realidade a fim de transformá-la.

A práxis, nesse sentido, se efetiva pela análise da realidade, em um movimento de apreensão, teorização e retorno para a realidade, pela capacidade de refletir sobre as ações e poder intervir. (Ibid., p.77).

Gramsci afirma que o caráter revolucionário se origina na vida militante e o seu desenvolvimento acontece nas lutas e tensões, pois, como ele próprio ressalta, não existe sujeito revolucionário se não estiver envolvido com a luta revolucionária, pois a capacidade não é do sujeito individual, mas de associação com outros que queiram (Gramsci, 2011, p441). Sendo assim, ele não limita sua preocupação à formação humana individual, a uma educação meramente no âmbito escolar, mas em todos os espaços da vida social.

Um dos conceitos caro ao pensador italiano é a hegemonia, e para que a compreendamos, é preciso considerar que a organização do trabalho está diretamente vinculada ao modo de vida social, a qual sofre um processo de adaptação psicofísica, pois o modo de vida social se adequa psicológica e fisicamente à forma de trabalho que se estabelece e, para isso, é necessário que essa combinação torne-se hegemônica. Desse modo, Gramsci afirma que “a hegemonia nasce na fábrica”(2007, p.247). Para o estabelecimento dessa hegemonia, a classe dominante faz uso da força coercitiva repressiva ou ideológica, pois, para exercer a hegemonia, “necessita apenas de uma quantidade mínima de intermediários profissionais da política e da ideologia” (Gramsci, 2007, p.248). Tal força, repressiva ou ideológica, será determinada pelo modo como a sociedade se organiza.

Gramsci afirma que para iniciar a revolução socialista é preciso construir as condições para uma nova hegemonia, Ana Maria Said, afirma:

É pensando na hegemonia da classe proletária, que Gramsci tende a analisar o Estado com um conceito ampliado. Quando analisa o exercício da hegemonia da classe burguesa na história italiana, não pode considerá-la modelo para a classe operária na própria luta pela hegemonia, em geral, é somente a capacidade de guiar e, assim, capacidade de direção política, intelectual e moral. A burguesia, para dirigir, além de dominar, necessita de formas de hegemonia que ocultem essa situação, que mistifiquem a exploração; carece, enfim, de um consenso de aliados subalternos (SAID, 2009, p.180).

Ainda que nas sociedades pré-capitalistas as ditaduras feudais necessitassem de algum consenso para legitimar-se, este consenso era imposto pelo Estado que era Clerical, ou seja, representado ou fundido com a Igreja nesse dado momento histórico. Tinha a função de Aparelho Ideológico do Estado, como afirma Althusser[14], reproduzir a ideologia dominante, mas tinha sua ideologia assegurada predominantemente pela coerção. Porém, na medida em que o capitalismo se desenvolveu nos países mais industrializados e ocorria a laicização do estado como o movimento iluminista, “a fórmula pela qual ‘a religião é uma questão privada’ radicou-se como forma popular do conceito de separação entre Igreja e Estado” (Gramsci, 2011, p.103). Dessa maneira, a função hegemônica passa da condição de imposição pública para adesão privada voluntária:

A técnica política moderna mudou completamente após 1848, após a expansão do parlamentarismo do regime associativo sindical e partidário, da formação de vastas burocracias estatais e privadas(...). Nesse sentido, inteiros partidos ‘políticos’ e outras organizações econômicas ou de outro gênero devem ser considerados organismos de polícia política, de caráter investigativo e preventivo (GRAMSCI, 2011, p.79).

Nesse sentido, a ideologia tem um papel determinante, e Gramsci denomina a Sociedade Civil como espaço dos aparelhos privados de hegemonia. A ideologia se consolida, como mediadora entre a estrutura, ou seja, o modo de produção e a superestrutura, na qual se situam os diversos complexos da práxis humana e destaca-se o Estado. Contudo para Gramsci, sociedade Civil não se trata diretamente de um sinônimo de sociedade burguesa, para Souza o pensador tem uma visão dialética da ideologia:

Assim, não exatamente a ideologia preponderante é ou deve ser a ideologia burguesa, vislumbrando, assim, a possibilidade de sobreposição da ideologia proletária nesse âmbito que poderá refletir diretamente na sociedade política, ou seja, através da sociedade civil e suas instituições onde se formam os sujeitos  e os intelectuais que colaboram nas atividades da superestrutura política. Desse modo, para Gramsci, a transição se estabelece como processo revolucionário marcado pela eliminação progressiva dos instrumentos de coerção, por uma longa marcha dessas instituições da Sociedade Civil e não somente pelo embate frontal defendido pelos maximalistas[15], no intuito de que a Sociedade Política seja assimilada pela Sociedade Civil (SOUSA, 2014, p.85).

4.2 A luta pela hegemonia


Gramsci, assim como Marx e Engels, certifica que o Estado (burguês) existe como produto da divisão social de classes e tem como função conservar e reproduzir essa divisão. O pensador empreende suas contribuições a partir da Sociedade Civil, a qual considera como espaço de manifestação e reprodução da hegemonia; considera-a como espaço de manifestação e reprodução da hegemonia, na qual os grupos buscam, através de uma correlação de forças, ganhar aliados para ocupar posições nas direções políticas, vislumbrando a aquisição do consenso geral. Assim, Gramsci concebe o Estado como articulação orgânica-dialética entre a Sociedade Civil e Política quando assenta que:

Esse estudo também leva a certas determinações do conceito de Estado, que, habitualmente, é entendido como sociedade política (ou ditadura, ou aparelho coercitivo, para moldar a massa popular segundo o tipo de produção e a economia a um dado momento); e não como equilíbrio da sociedade política com a sociedade civil (ou hegemonia de um grupo social sobre toda a sociedade nacional, exercidas através de organizações ditas privadas, como a igreja, os sindicatos, as escolas, etc,).(GRAMSCI, 2005b, p.84).

Gramsci destaca a possibilidade do salto da passagem do momento egoístico-econômico ao ético-político de amplitude coletiva que surge pela formação da consciência, possibilitando a saída da passividade para a liberdade, pela superação dos interesses imediatos de pequenos grupos à dimensão universal, dada a articulação entre subjetividade e objetividade, movimento que Gramsci denomina de “catarse”, após a elevação das consciências do senso comum à consciência filosófica, para formar um novo bloco histórico, como explicita ao afirmar que este movimento:

[...] indica a passagem do momento meramente econômico (ou egoístico-passional) ao momento ético-político, isto é, a elaboração superior da estrutura em superestrutura na consciência dos homens. Isto significa, também, a passagem do “objetivo ao subjetivo” e da “necessidade à liberdade” (GRAMSCI, 2011d, p.314).

A categoria hegemonia se define como o modo de pensar homogêneo que consolida poder e imobiliza a organização política pela direção espiritual e moral, que, dentro de uma sociedade de tipo oriental, manifesta-se predominantemente como força coercitiva repressiva e, no Ocidente, como força ideológica. Conforme GRAMSCI (2011b, p.95),

[...] o exercício “normal” da hegemonia [...] caracteriza-se pela combinação da e do consenso, que se equilibram de modo variado, sem que a força suplante em muito o consenso, mas, ao contrário, tentando fazer com que a força pareça apoiada no consenso da maioria, expresso pelos chamados órgão da opinião – jornais e associações.

Desse modo, Hegemonia não é apenas sinônimo de domínio, tendo em vista que hegemonia se caracteriza também como direção (espiritual). Assim, um Estado pode ter o domínio, o governo nas mãos, mas não ter a direção, como ocorreu nos Estados ditatoriais, nos quais a guerra de movimento funciona com sucesso como estratégia revolucionária, já que a Sociedade Civil não se encontra em consenso com o Estado. E, pela sua debilidade, exige um processo de transição, o qual, para atingir o estágio de autorregulação, se deve passar por um período de fortalecimento do Estado-coerção (ditadura do proletariado) somente na medida em que se produzam novas formas de vida e autonomia política-cultural e estabeleça a democracia socialista através de uma “reforma intelectual e moral” capaz de conduzir à extinção do próprio Estado, superando-o, conservando apenas os organismos sociais de autogoverno. Entretanto, Gramsci contrapõe-se aos estados de transição, que terminam por tornarem-se absolutistas e perpetuarem-se no domínio e no poder, tornando-se fanatismo teórico, o que não permite cumprir, todavia, seu papel de agente de fomento da revolução.

[...] nas sociedades em que a unidade histórica de sociedade civil e sociedade política for entendida dialeticamente (na dialética real e não só conceitual), e o Estado for concebido como capaz de ser superado pela “sociedade regulada”: nesta sociedade, o partido dominante não se confunde organicamente com o governo, mas instrumento para a passagem da sociedade civil-política à “sociedade regulada”, na medida em que absorve ambas em si, para superá-las (e não para perpetuar suas contradições). (GRAMSCI, 2010, p. 230)

O grande desafio revolucionário são as sociedades que, cada vez mais se consolidam a defenderem a “socialização política”, pela aclamação à participação na sociedade civil. Desta maneira, há  uma relação entre Sociedade Civil e Sociedade Política, onde o grupo dominante se utiliza das instituições, como a escola e os meios de comunicação, para manter seu domínio ideológico sobre as massas, unindo harmonicamente a coerção ideológica à coerção repressiva Conforme Gramsci: “ a escola como função educativa positiva e os tribunais como função educativa repressiva e negativa são as atividades estatais mais importantes nesse sentido” (GRAMSCI, 2011b, p.284), o que resulta no fortalecimento do Estado que consegue manter o domínio e a direção.

A luta pela hegemonia é uma difícil tarefa pedagógica, pois “a tarefa essencial consiste em dedicar-se de modo sistemático e paciente a formar esta força” (GRAMSCI, 2011b, p.46). A vitória, segundo o filósofo sardo, não ocorrerá apenas pelas crises econômicas, mas pela articulação da crise estrutural do modo de produção, aliada à crise político ideológica ou crise hegemônica, a qual Gramsci denomina de crise orgânica. Contudo, para a classe dos dominados subverter as relações hegemônicas e tornar-se dirigente, é necessário formar a consciência necessária para educar os sujeitos políticos coletivos, visando prepará-los com “quantidades excepcionais de paciência e espírito inventivo” (GRAMSCI, 2011b, p.255) e muni-los da vontade e da capacidade política para que percebam os momentos de crise como momento de oportunidade de promoção do pensamento hegemônico subalterno e das transformações estruturais necessárias para fazer ruir o sistema vigente. A transformação da classe dominada em dirigente, antes da efetiva tomada do poder, é a condição primeira da estratégia gramsciana de transição ao socialismo, pois, “a guerra de posição uma vez vencida, é vencida definidamente” (GRAMSCI, 2011b, p.255).

A ação consciente deve ser capaz de impulsionar e, consequentemente, alavancar uma renovação política, cultural, econômica e social, “criadora de valores históricos e institucionais, fundadora de Estados” (GRAMSCI, 2011b, p. 196). Nessa esteira, Gramsci assevera que:

O moderno príncipe deve e não pode deixar de ser o anunciador e organizador de uma reforma intelectual e moral, o que significa, de resto, criar o terreno para um novo  desenvolvimento da vontade coletiva nacional-popular no sentido da realização de uma forma superior e total de civilização moderna (GRAMSCI, 2011b, p.18).

Assim, Gramsci coordena ética com produtividade, não no nível dos homens como indivíduos, mas como um complexo social, sobriedade e disciplina com economia e rendimento, formação do homem e trabalho (aquele trabalho que é a relação do homem com a natureza, que insere a ordem social na ordem natural). “Na realização prática dessa coordenação, reside aquela reforma intelectual e moral que Gramsci considera uma das tarefas do Estado e da sua trama privada, em particular do “Príncipe moderno”, isto é, o partido da classe que tende a tornar-se hegemônica na construção da nova sociedade”. (Manacorda, 1970, p.232). No pensamento de Gramsci pode-se distinguir uma linha de pesquisa claramente orientada e uma conclusão, de qualquer modo, solidamente ancorada na perspectiva marxiana da extinção do Estado e do advento de uma sociedade auto regulada:

O primeiro ponto de uma busca é a crítica da concepção do Estado como puro governo político e a proposta de uma noção geral de Estado, em que seja entendido em sentido orgânico e mais amplo; já o escutamos de resto, afirmar que o Estado não se identifica com a sociedade política, ou o governo, mas compreende, como sua trama privada, também a sociedade civil, ou melhor, ele é o equilíbrio entre a sociedade política e a sociedade civil, sobre a qual, dirá agora, “é também ela o Estado, ou melhor, é o próprio Estado”. (GRAMSCI apud Manacorda, 2013, p.251).

Gramsci coloca o problema numa perspectiva histórica, indagando a concepção do Estado como guarda-noturno, isto é, aquela que reduz o Estado ao puro momento da força, confiando-lhe a função única da tutela da ordem pública e excluindo-o das intervenções morais ou econômicas:

Estamos sempre no terreno da identificação do Estado com o governo, identificação que justamente uma representação da forma corporativo-econômica, isto é, da confusão entre sociedade civil e sociedade política (GRAMSCI, Caderno 6- VIII, p. 40).[16]

O discurso sobre a extensão da área escolar (horizontal), e sobre as séries dos seus graus (vertical), tende a criar seu próprio tipo de escola. Toda atividade prática tende a criar seu próprio tipo de escola e, ademais, escolas para aqueles que ensinam nessas escolas. Nessa perspectiva, Gramsci entende que é útil uma certa “estratificação” da capacidade e das atitudes, “e a formação de grupos de trabalho sob a orientação dos mais experientes e desenvolvidos, que acelerem a preparação dos mais atrasados e imaturos(GRAMSCI, Caderno 12, XXIX, 1932,  p.7).

Seria necessário uma espécie de ensino mútuo, para realizar aquilo que poderia se chamar de conformismo não imposto do alto, mas surgindo da colaboração democrática de iguais, em níveis diversos de amadurecimento da cultura. A tarefa de envolver todos e de conformá-los homogeneamente, superando as distinções de classes em uma forma unitária, não pode ser deixada à iniciativa privada de grupos corporativos, que perpetuariam inevitavelmente as desigualdades sociais por meio de itinerários educacionais parciais e desiguais, “sendo necessária, ao invés disso, a iniciativa de todo o Estado em seu conjunto (que aqui podemos pensar como estando ainda na fase em que é igual a governo e se identifica com a sociedade civil) (MANACORDA, 2013, p.264).

O trabalho industrial, que implica do ponto de vista intelectual, o conhecimento das leis da natureza e da sociedade e, do ponto de vista moral, o hábito de um sistema de vida harmonicamente equilibrado, é, portanto, em última instância, o princípio educativo unitário que, “marxianamente”, Gramsci aponta. A sua é uma posição igualmente crítica com relação ao velho princípio dogmático e aristocrático. Gramsci parte de uma perspectiva de futuro, à qual ele chega deixando para trás suas origens provincianas e meridionais e toda a cultura nacional, por meio de uma experiência cultural e política que se ampliou do âmbito nacional ao internacional e que o leva a projetar a unificação do gênero humano sob o signo do trabalho e da ciência.




5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Desse modo, a escola que Gramsci pensa no viés do marxismo genuíno, possibilita uma formação omnilateral, completa, que rompa com todos os paradigmas hodiernos que buscam simplesmente justapor opostos, mantendo a contradição funcional do sistema vigente. A formação omnilateral visa, única e exclusivamente, contribuir para a dissolução do poder e organização dos múltiplos sujeitos da sociedade civil, criando a subjetividade necessária que somente é possível com a subversão da ordem de dominação para a instituição de uma sociedade genuinamente humana, possibilitando os sujeitos coletivos não somente no âmbito da escola unitária, mas em todos os espaços e instituições que a sociedade vier a criar, pela participação ativa na vida política, econômica e cultural.

O princípio cultural e educativo gramsciano é, portanto, unitário: o problema é que é dado a alguns e negado a outros, uma formação completa. A objetividade crescente da sociedade industrial contrapôs a velha cultura humanística, a nova cultura tecnológica, fragmentando e desagregando a velha unidade e exclusividade da cultura tradicional, levando, assim, à crise da escola. Dessa análise, surge a busca da solução “racional” (não significa, iluministicamente, produzida pela razão; mas objetiva, consistente com os fins), na qual Gramsci delineia uma nova organização educativa. Uma escola unitária vinculada às instituições produtivas e culturais da sociedade.

Em suma, podemos aferir que a teoria gramsciana traz em seu cerne uma grande contribuição de caráter revolucionário para a discussão educacional, principalmente enfrentando as propostas dominantes. A escola deve fazer parte dessa frente única nucleada nas forças sociais antagônicas ao capital, fundamentalmente a classe operária e o campesinato pobre. Essas classes subalternas devem organizar-se de maneira autônoma segundo sua própria experiência, criando instituições sociais próprias que dariam materialidade à subjetividade antagônica em desenvolvimento. O partido revolucionário deve ser o elemento de coordenação, centralização e difusão dessa subjetividade antagônica, o filtro do que mais avançado e desenvolvido pudesse existir da classe operária.

Gramsci, na prisão, sempre esteve preocupado e envolvido com uma possibilidade educativa que interviesse para o processo de formação do homem novo, a aceitação consciente de uma tarefa que sempre existiu, embora sob formas diversas, entre os velhos e os jovens, entre a classe hegemônica e as classes subalternas. A formação do homem novo e livre é necessária conjuntamente à consolidação de uma nova sociedade, emancipada, em que os antagonismos de classes sejam superados e sejam postas as possibilidades materiais e espirituais de desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas para uma sociedade comunista.

Gramsci propôs a escola única com a finalidade de preparar os trabalhadores, os subalternos para que pudessem efetivar uma aliança com os intelectuais orgânicos e com as forças que se desprendiam da ordem vigente, promover um suceder de objetivos transitórios, que culminaria com a revolução socialista e a realização da democracia do trabalho. A escola proposta daria respostas mais completas desvelando os estigmas colocados pelas estratégias dominantes. Assim, essa escola foi a primeira a se preocupar com todas as questões e a que ofereceu as melhores respostas, ainda que necessariamente incompletas. Gramsci durante o curto período de sua vida, grande parte no cárcere, refletiu e aprofundou sua ciência política, procurando compreender melhor todas as questões teóricas relacionadas à escola e outras instâncias que poderiam contribuir com a formação de um novo homem.

Em suma, aferimos que a teoria gramsciana traz em seu cerne uma grande contribuição de caráter revolucionário para a discussão educacional, especialmente na contraordem das propostas dominantes. Gramsci defende severamente a necessidade de elevação do subalterno, de fazer de cada um desses indivíduos um ser humano, com acesso a todo patrimônio intelectual e material construído historicamente pela humanidade. O pensador sardo, busca na teórica e na prática educacional, a construção de uma nova forma de sociabilidade humana. O conhecimento cultural possibilita para Gramsci o conhecimento de si mesmo, e assim o homem pode sair da condição de subalternidade e elevar-se culturalmente e materialmente, podendo, desta feita, ativa e conscientemente, participar da construção da história.

A amplitude da obra gramsciana não nos permite finalizar as nossas considerações de modo pronto e acabado, mas como uma vereda que se abre, apontando uma longa jornada a percorrer, de idas e vindas teórico-práticas. E diante dos vastos elementos novos que se apresentam durante o processo de desvelamento de seu pensamento. Gramsci nos deu assim um programa educativo em acordo com sua concepção de mundo.



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[1] Obras de Antonio Gramsci, Einaud, Turim: L’ordine Nuovo’ (1919 – 1920), 1958 (O. N.) apud Manacorda, 2013.
[2] Gramsci registra a influência da maçonaria e da “Igreja Positivista”: Os eventos dos últimos tempos (novembro de 1930) – do Kulturkampf de Calles, no México, às insurreições militar-populares na Argentina, no Brasil,Peru, no Chile, na Bolívia – demonstram precisamente a exatidão destas observações, conclui ele. (Gramsci, p. 31)                     
[3] Poderíamos acrescentar nos dias de hoje, também as chamadas igrejas evangélicas que, principalmente no Brasil, criaram blocos políticos para defender seus interesses particulares e da classe dominante, formando, inclusive, um partido que representa a classe dominante no Congresso.
[4] Em Minas Gerais o Governador, Antonio Anastasia (PSDB - 2006-2014) criou um projeto de ensino com o nome “Reinventando o Ensino Médio” voltado para a profissionalização dos alunos em algumas áreas profissionais escolhida pelos próprios alunos do ensino médio, o novo governador, Fernando Pimentel (PT), neste ano de 2015, fechou o referido projeto voltando para o antigo currículo.
[5] O jornalista argentino Juan Manuel Fonrouge, presidente da Unión Latinoamericana de Agências de Notícias (Ulan), citado pela jornalista da revista Caros Amigos, n°221/2015, p.24, Fania Rodrigues, na matéria intitulada Mídia Latina Refaz “Operação Condor”, ficou conhecido depois que denunciou o que ele classificou como “Plano Condor Midiático”. O plano segundo Fonrouge, foi orquestrado por empresas como a Globo, do Brasil; o Clarin, da Argentina; El Mercúrio, do Chile; El Universo, do Equador; Globovisión e El Nacional, da Venezuela, entre outros. O objetivo é construir uma única linha editorial para atacar os governos e organizações de esquerda na América Latina. “Os grandes meios de comunicação são a arma da direita para instaurar seus interesses. Apoiaram fraudes eleitorais, golpes de estados, cooptação dos partidos populares, agora, os ‘golpes brandos’ têm esses meios como seus principais protagonistas”. Fonrouge, depois dessa denúncia fico conhecido mundialmente.
[6] Cadernos Intermediários de micelâneas (1930- 1932).
[7] Cadernos Intermediários Micelânias (1930- 1932).
[8] Podemos perceber no Brasil essa observação de Gramsci: depois das eleições de 2014, manifestações de descontentamento da classe trabalhadora pelo agravamento da crise econômica e tentativa de golpes políticos orquestrados pela direita reacionária.
[9] Nota de Rodapé da Ideologia Alemã
[10] Entenda-se educadores no sentido gramsciano que inclui familiares e professores, bem como intelectuais no sentido tradicional e orgânico, além do ambiente cultural.
[11]  Limitadas pela censura fascista através do diretor carcerário.
[12]  Segundo Lepre(2001), havia a especulação de que sua mulher, Giulia, estivesse sendo vigiada, desse modo, Tatiana    foi uma escolha racional e política.
[13]Gramsci, nomeia de sociedade regulada ou Estado ético para fugir a censura da prisão.



[14]  Na obra Aparelhos ideológicos do Estado, de Louis Althusser, o autor nega a possibilidade de obtenção do consenso hegemônico ou a inversão da ideologia dominante pela ideologia subalterna, pelo fato de as instituições sociais a assegurarem, juntamente ao Estado.
[15] Aqueles que defendiam a tese de que haveria o Grande Dia da Revolução, o iminente colapso do capitalismo e o estabelecimento do Estado proletário em uma visão fatalista.
[16] Cadernos de Miscelâneas (1930 – 1932).