segunda-feira, 8 de junho de 2009

A SELEÇÃO NATURAL DAS IDEIAS

A seleção natural das idéias pode ser pensada a partir da constatação DE que nós, seres humanos, selecionamos os nossos próprios pensamentos, descartando aqueles que nos parecem no momento menos interessante ou apropriado. Alguns psicólogos afirmam que se não conseguíssemos esquecer as idéias que não nos interessam, ou seja, fazer uma seleção, certamente enlouqueceríamos. “Eu fiz isso, diz minha memória. Não posso ter feito isso, diz meu orgulho e permanece inexorável. Finalmente, a memória desiste.”¹ As idéias descartadas podem ser por nós escolhidas, deixando de pensar naquilo que não entendemos como necessário ou importante. Mas, certamente também devemos esquecer de maneira inconsciente o que não está sendo destacado ou utilizado no nosso cotidiano. Quem sabe até pudéssemos emprestar os conceitos da biologia e dizer que as ideias são selecionadas por, não adaptações, maladaptações, adaptações integradas ou dispor de seleção natural.
Darwin considerou que na natureza existe um fenômeno que contribui para sobrevivência das espécies. “Para isso ele partiu de uma analogia ousada: ele observou que os indivíduos de uma mesma espécie são diferentes. Na criação de animais, o homem usa essa variabilidade e só permite que se reproduzam aqueles exemplares, cujas características lhe sejam úteis. Na natureza, ao criador correspondem as condições ambientais. O individuo que lhes esteja mais-adaptado, também tem melhores chances de sobreviver e, principalmente, de procriar. ”² Como em determinada época um animal reinava soberano em determinado ambiente, alguns pensamentos filosóficos também foram muito valorizados por determinadas sociedades,ou por pensadores como Georg W. F. Hegel, Augusto Conte e muitos outros que foram venerados e tiveram suas filosofias idolatradas como verdades fundamentadas, hoje já não são tão lembradas e outros ainda até já foram esquecidos.
Vivemos no mundo e para o mundo, porque somos seres sociais. Devemos em primeiro lugar privilegiar nós mesmos e em segundo, mas, quase que simultaneamente a sociedade da qual fazemos parte, porque dela dependemos. A idéia para Platão estava em outro mundo, ou seja, no mundo das idéias. Mas a IDEIA que me apresenta é cada fixo e determinado grau de objetivação da “minha” vontade. Cada filósofo tem sua maneira de perceber o mundo, por isso as filosofias são diferentes e podemos dizer que umas são melhores e outras piores. Se algum filosofo conseguiu alcançar a IDEIA de Platão, então podemos dizer que sua filosofia ou pelo menos parte dela não pode sofrer SELEÇÃO. As coisas individuais são transitórias, mas as idéias são eternas. Elas significam apoio e segurança. “Conduzem-se às nossas máximas, de revolta às atitudesde nosso ser. O ensinamento platônico é também uma revolta contra a transitoriedade do ‘ser’. A exposição de idéias gera confiança diante do contínuo ‘tornar-se’, que o pré-socrático Heráclito descreveu com a frase: ‘Tudo flue’³. Schopenhauer considera o conceito abstrato, discursivo, apreensível, mas a IDEIA desvencilhada da vontade do sujeito. “Ideia é representante do conceito, mas é absolutamente intuitiva, é conhecida apenas por quem se destituiu de todo querer e de toda individualidade, ela é alcançável apenas pelo puro sujeito do conhecimento.* Talvez por isso possamos dizer que alguns filósofos nunca serão esquecidos, por causa da transcendentalidade de suas idéias assim como alguns animais pré-históricos ainda sobrevivem e quiçá continuem a existir ainda quando o homem já não mais estiver pisando sobre a terra.
¹KAY HOFFMAN. As Dores de Amor de Sócrates. Cit.NIETZSCHE. S. Paulo: Madras, 2003, P.18.
²GEO. Um Novo Mundo de Conhecimento. S. Paulo: Escala, Março de 2009, n°1, p52.
³Ibdem. P. 65
*SCHOPENHAUER, Artur. O Mundo como Vontade e com Representação. Tra. Jair Barbosa.- São Paulo:UNESP,2005, p.310.

COOPERAR E COMPETIR.

Para Darwin a competição pela comida (podemos entender toda a satisfação pessoal no caso do homem) ou pela procriação, é uma batalha pela existência que sobressai os que tiverem mais aptos, “survival of the fittest”- como Darwin o chamou mais tarde, por sugestão do filósofo Herbert Spencer- são adaptações que um ser vivo adquire com as características que já recebeu de seus antepassados no genoma. Mas, é certo também, e principalmente no caso do homem, que em vida podemos desenvolver características que nos possibilite vencer essa batalha pela sobrevivência. Para Nietzsche é a vontade de potência, fonte criativa da vida ou poder criador abastecido de expectativas, de contrastes, vivendo para além da moral e das vontades canônicas, o homem no seu fulgor biológico e psicológico.
Para Thomas Hobbes, “os homens não tinham prazer algum na companhia uns dos outros”¹ . Nesse caso os homens se submetem aos grupos unicamente por necessidades. De modo que na natureza do homem encontra a competição, a desconfiança e o medo. Os primeiros homens usavam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos. Hobbes diferentemente de Rousseau que entendia o homem no estado de natureza como “o bom selvagem”, e só seria corrompido mais tarde pela posse da propriedade privada; dizia que o homem que estava no estado de natureza estava em guerra. Mas, os dois, assim como John Locke, entendiam que o estado de natureza é o estado dos direitos naturais, onde o homem tem o direito de sobreviver e de tentar fazer com que triunfem suas opiniões e também o direito de proteger sua propriedade. Locke legitima a criação de um corpo de juízes pelas leis da natureza. “O estado de natureza é o ponto de partida, o ponto de chegada é o estado civil e o meio através do qual ocorre a passagem de um para outro é o contrato social”² Para dar legitimidade ao contrário é preciso que todos concordem em unir-se numa sociedade. O homem se abdica, em favor da maioria, para dar poder necessário à realização dos fins para os quais se uniram em sociedade.
Num jogo de futebol é preciso que haja cooperação para que possamos vencer o adversário, mas também temos que ser competitivos com os nossos companheiros porque poderemos perder o lugar para o reserva, ou perder com o rebaixamento do próprio salário. O capitalismo faz com que sejamos cada vez mais preocupados com as vitórias que ele nos oferece. Então temos que ser expertos na hora de decidir se temos que cooperar ou competir. Tornamos-nos cada vez mais propensos à disputa. As informações nos orientam ao consumo exacerbado. Destruímos a nos mesmos com desgastes psicológicos, o estresse, por exemplo, e ao planeta, desmatando e poluindo.
Schopenhauer considera que os atos humanos não são livres, mas estão submetidos à necessidade, já que cada ação isolada segue o motivo que a determina. “Aquilo que para cada homem é seu caráter infundado, pressuposto em qualquer explanação de seus atos a partir de motivos, é para cada corpo orgânico precisamente sua qualidade essencial”³ . Podemos prever o que um homem de determinado caráter fará, mas não poderemos dizer por que ele tem aquele caráter. O que podemos fazer para amenizar a competição e aumentar a cooperação é criar um mundo diferente deste que vivemos. O socialismo é a única opção, temos que nos educar para mudar nossa maneira de produzir e reproduzir nossa existência no planeta.
¹Hobbes, Thomas: Leviatã, ou matéria, forma e poder de uma república eclesiástica e civil. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p.108.
²BOBBIO, Norberto e BOVERO, Michelangelo. Sociedade e Estado na filosofia política moderna. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 49.
³SCHOPENHAUER, Arthur: O Mundo como Vontade e como Representação. São Paulo: UNESP, 2005, p. 185.

domingo, 7 de junho de 2009

Para uma nova Democracia

A democracia representativa, tanto nos EUA, na Europa, como no Brasil não tem de fato correspondido à sua definição mais conhecida: governo do povo, pelo povo e para o povo. Os governantes eleitos como representantes da vontade popular, antes das eleições prometem o que o eleitor quer, mas depois de eleitos não cumprem as promessas de campanha. Existe um abismo entre a vontade popular e a política efetiva realmente praticada.
No seu livro Micro Física do Poder, Michel Foucault mostra que o poder se dissolveu na sociedade e os governantes mesmos bem intencionados não podem mudar o sistema viciado. Os Estados Unidos mesmo com o presidente Barack Hussein Obama, sua eleição considerada uma grande vitória da democracia, com certeza vai continuar sendo um país belicoso. É preciso que a estrutura do sistema seja reformulada. Os cidadãos devem ser ouvidos, de maneira mais amiúde, principalmente nos assuntos que lhes digam respeito direto.
Nessa democracia que realizamos, só temos importância, ou realmente somos cidadãos apenas no dia da eleição, depois somos esquecidos como se não existíssemos enquanto sujeitos de direitos. É preciso mais plebiscitos, é preciso ouvir as associações, seja profissionais ou sociais, como a associação de bairros por exemplo. É uma democracia representativa, mas temos que diminuir o máximo esta representatividade porque os políticos depois de eleitos passam a servir somente aos grandes grupos empresariais. Mesmo a mídia trabalha em benefício das grandes organizações, o sensacionalismo da violência tem como principal objetivo servir a interesses escusos e a indústria da segurança: carros blindados, dispositivos eletrônicos para localização de objetos furtados, seguranças, condomínios fechados, TV a cabo, Chopin centres, etc.
A cultura do medo reforça a natureza humana como perigosa. A catástrofe serve para mostrar que a vida é regida pelo acaso. Sabemos que nós somos agressivos por natureza, que é alimentada principalmente pela frustração dos nossos desejos não realizados, mas a violência não faz parte da nossa natureza. A delinqüência, ilegalidade dominada, é um agente para a ilegalidade dos grupos dominantes. O trafico de armas, o de drogas, mostram da mesma maneira esse funcionamento da “delinqüência útil”. Até juízes são empregados desse mecanismo. Ajudam a constituição da delinqüência, ou seja, a diferenciação das ilegalidades, o controle, a colonização e a utilização de algumas delas pela ilegalidade da classe dominante.
Temos de repensar a democracia no mundo contemporâneo onde vislumbramos o início da era das comunicações. O homem que pode surgir deste novo contexto deve se apresentar como sujeito e usuário consciente da informação veiculada pela mídia e capaz de fazer uso dela de forma livre, para o benefício da sociedade. Esse aceso transparente e imparcial às informações de maneira que o saber e o aprender permitam que melhoremos o trabalho, o lazer e a solidariedade. A solidariedade implica não apenas sentir o outro, mas compartilhar nossas vidas, nossos sonhos, com o outro. E daí criarmos outras formas de fazer política, fazermos uma democracia vinculada à ética. Mas, não podemos esquecer que não poderemos criar algo novo se utilizarmos a mesma lógica e o mesmo método do capitalismo.